segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ODE AO MEU QUINTAL

Djanira Silva


          Este é o meu país, país que ao amanhecer tem um cheiro macio de mato verde e um sorriso de luz que atravessa o jardim avivando as cores, e o perfume das rosas ao redor da casa. País que tem cheiro de goiabada cozendo no tacho de cobre, que minha mãe mexia para fazer mariolas, compotas e geléias
          Meu país é aqui, exatamente aqui. Quadro pendurado no tempo. É um país de manguitos respingando seiva sobre as folhas caídas, de frutos e flores, de sanhaços de mamoeiro, colorindo de tons azuis as manhãs maduras.
          À tardinha os cheiros da cozinha, o aconchego do anoitecer. A mesa posta o sono leve o abandono.
          Este é o meu país sem medos e sem sustos.
          Desfaço a trilha das formigas, reviro o chão no rastro das minhocas, derramo a água do tanque, afogo os peixes no ar.

          Este é o meu país de onde escuto a corneta do quartel na alvorada e a banda de música a tocar dobrados nas procissões e nos enterros, na tristeza monocórdia dos tambores.
          Este é o meu país onde o colorido do mundo me revelou a vida desde o primeiro dia. Coberta de azul rodeada de verde, piso no barro e na areia, cores com as quais um dia me confundirei.
          Nas igrejas asas de anjos, o branco das velas, da primeira comunhão, da leveza dos véus de noiva, e dos caixões de crianças mortas.

          Este é o meu país, país de rosas, romãs e pitangueiras, de papoulas e gladíolos vermelhos ao redor da casa onde nasci. Do rosto encolerizado, rubro de ira, soberano absoluto quando me castigava. Do vermelho sangue, do vermelho bento, manto do Sagrado Coração.
          Roxo. As cores da Paixão e dos caixões das defuntas viúvas.
          Um dia descobri que tinha os olhos verdes. Pensei que era de tanto olhar a serra, de tanto caminhar por entre umbuzeiros e goiabeiras.
          Este é o meu país, um país onde canta o sabiá, onde andorinhas fazem ninhos onde rosas e borboletas festejam a vida.