Dade Amorim
Sabe-se a importância da loucura ou o que se chama de loucura, quando ela é engendradora, mãe da criação em tantos casos. Exemplo disso é o cara que abandona poderes e dinheiro fácil para viver dedicado a sua arte e produzir seus parangolés, mesmo apanhando e sendo discriminado entre seus contemporâneos. Em especial um certo tipo de crítica em que a frustração e a inveja são os móveis mais atuantes.
Se entregar à loucura e se dar bem com a crítica às vezes é impossível em vida, a não ser que se encontre alguém tão abençoado como a doutora Nise da Silveira, desinteressada de tudo que não fosse a salvação de seus pacientes. As gerações contemporâneas desses talentos acima da média (embora nem sempre loucos, diga-se) costumam jogar tomates e pedras nas inovações que não conseguem compreender – tão aí Oiticica, os irmãos Campos e Bandeira, Rosa, Vianna, Rimbaud, Baudelaire e tantos outros que não me deixam mentir.
Mas a crítica póstuma costuma rever as primeiras reações da galera e reconhecer o talento. Muitos desses loucos frutíferos têm até seguidores que fazem questão de comparar a própria insânia com a do artista famoso, em quem o excesso de libido e energia psíquica se metamorfoseou em criação. A loucura sublimadora, a que transforma o mundo da experiência sensível em uma supra-realidade tocada pela beleza e/ou pelo horror que fervem dentro do artista, acaba sempre se impondo de algum modo.