D.Edvaldo G. Amaral (*)
A um médico, durante exame clínico computadorizado, perguntei certa vez: “Doutor, se de repente desaparecessem todos os computadores do mundo, o que vocês iriam fazer?” E o clínico respondeu-me de imediato: “Padre, iríamos para casa descansar, porque nada mais teríamos - e poderíamos - fazer.”
Por esse exemplo fica configurada a absoluta necessidade, - e até diria indispensabilidade - do computador na vida moderna. Sua presença nota-se do consultório médico à sacristia das igrejas, dos escritórios e escolas até os lares, em vários ambientes, inclusive o quarto de dormir, sobretudo dos jovens. Sua presença é universal, seu uso constante e imprescindível. E agora temos a notícia de que, nas escolas públicas do estado americano de Atlanta, neste ano letivo, que agora começa lá, os alunos não aprenderão mais a escrever o alfabeto e sim a digitá-lo no teclado do computador.
Mas, há algo a refletir sobre esse fenômeno moderno, que transformou nossa cultura. Uma charge, que recebi pela internet, retratava um jovem, sentado diante de um notebook, que interrogava o pai: “Papai, lá em nossa escola, além do velho computador (vejam como eles já chamam o PC...), usamos também o IPad, o IPhone, o Smartphone, o Youtube, o Orkut, o Facebook e outras redes sociais. E o senhor, papai, que usava em sua escola?” O velho, sentado em sua cadeira de balanço, folheando o diário preferido, respondeu sisudo e circumspecto: “A CABEÇA!” É assim mesmo... será que na escola de hoje, ainda se usa a CABEÇA? Falando dos pífios resultados do último ENEM, que ela classificou como “desastre do ensino médio”, conhecida revista de divulgação nacional proclamava no título da reportagem, referindo-se aos alunos, que obtiveram tão desastrosos resultados: “É preciso preencher a cabeça deles!”
Fico pensando em Dom Bosco, que escreveu tantos livros populares e era periodista das populares “Leituras Católicas”, mensalmente por ele editadas e escritas com caneta de molhar. Seus três primeiros biógrafos, Pe.. Lemoyne, Pe. Amadei e Pe. Céria, escreveram também à tinta as 3577 páginas dos vinte volumes de suas “Memórias biográficas”. Talvez o último, Pe. Eugênio Ceria, já terá utilizado a velha e boa máquina de escrever. Dizem também que o último dos cinco ministros, defenestrados no atual governo, teria pedido uma máquina de escrever (teria sido uma velha “Remington”?) para redigir a carta de sua demissão. Será verdade?
O computador é bom, ou melhor, hoje é indispensável. Mas é uma máquina. Apenas uma máquina. Foi com um deles que escrevi este arquivo e todos os meus opúsculos, a partir do terceiro. É por ele, pela internet, que se envia o artigo escrito à redação dos jornais. Mas, repito, é apenas uma máquina. Não mais do que uma máquina. E tanto pode servir para o bem, grande bem, como para o mal: para a corrupção dos costumes, para divulgar imagens eróticas, para organizar crimes, para destruir reputações e assim por diante.
Sem computador, não. Mas o computador para nos ajudar a fazer o bem, aí sim...
(*) É arcebispo emérito de Maceió.