Djanira Silva
A mulher entrou na Igreja, sentou-se no último banco. Respirou aliviada. Sentia-se exausta da canseira dos últimos dias: doenças, exames, faltas ao trabalho. Seu alívio, porém, durou pouco. Uma mão pesada pousou no seu ombro e a voz no seu ouvido.
- Fique calada, não olhe para trás e me dê o pacote que você botou.
Enquanto falava, fazia pressão nas costelas da mulher com o que ela imaginou ser uma faca.
Tremendo, abriu a bolsa, sem a menor intenção de reagir, e entregou-lhe o pequeno pacote.
Ainda tremendo e sem poder conter o choro esperou que o homem se afastasse e saiu desesperada. Estava sem dinheiro para pegar o ônibus. Pegaria um táxi, em casa pagaria. A mãe assustou-se quando a viu chegar de carro.
- Pelo amor de Deus, o que foi que houve.
Quando conseguiu para de chorar contou que havia sido assaltada:
- O que vai ser da gente, mãe, o sujeito levou o meu salário todinho.
- Tenha calma, minha filha, lembre-se de que você está doente, não pode ficar neste estado. Dinheiro vai, dinheiro vem. Pelo menos entregou as fezes para fazer exame?
- Entreguei nada mãe, fui logo receber dinheiro. A porcaria ainda está aqui. – Ao abrir a bolsa deu um grito:
- Meu Deus, entreguei ao ladrão o pacote com as fezes, a esta altura ele deve estar pensando que quem rouba na Igreja é castigado.
Obs: Texto retirado do livro da autora - A Maldição do Serviço Doméstico e Outras Maldições.