Betto Santos*
Começo esta crônica avisando que o final já é conhecido por todos, e que qualquer semelhança é mera coincidência, porém, qualquer coincidência é pura semelhança.
Tudo começou num dia em que acordei, mas isso é irrelevante, pois, este dia poderia ser qualquer um,afinal, acordar é um dos meus hábitos de praxe. Foi um dia no qual eu realmente sabia o que iria acontecer.
Inevitavelmente, após acordar, eu me levantei, para assim executar meus afazeres daquela manhã, que, aliás, foram feitos quase automaticamente, pois são habituais. Sentei-me no sofá e li , no jornal de hoje, as notícias do jornal de ontem, da semana passada e de 2 anos atrás. Após terminar a leitura, tomei o mesmo café que venho tomando por anos. Depois de tomar o mesmo banho de sempre e vestir a mesma roupa de muito tempo atrás, pus-me a caminho do trabalho, onde exerço a mesma profissão desde recém -formado, no mesmo escritório.
A caminho do trabalho, me peguei pensando em asneiras, como a utilidade dos insetos pra a existência do planeta, ou o programa televisivo que vi na noite passada, no qual foram exibidas as mesmas coisas do programa da semana passada, e do mês passado... Mas mesmo que as inutilidades povoassem minha mente, pensei em não pensar (como é difícil).
Ao chegar no trabalho, dirigi-me à minha mesa, e lá fiquei, perdido em pensamentos por toda a manhã. Após comer a mesma comida que como desde o meu primeiro horário de almoço naquele emprego, e a reunião da tarde, onde eu e meus colegas discutimos as mesmas coisas da última reunião, e da anterior, e da outra, e de todas as outras. Voltei à minha mesa, para me perder nos pensamentos da tarde, nessas horas eu desejava ser, apenas, dono de um botequim.
Tarde da noite estava novamente em casa. Jantei a mesma comida de ontem e anteontem e fui pra cama esperar a hora de voltar à minha eterna prisão conformista que me assombra dia após dia.
Obs: Imagem enviada pelo autor.