Ina Melo
Aos meus amores,
Hoje escrevo aos amores sonhados, vividos, passados e perdidos. Quantas vezes o coração pode amar? Alguns dizem que o amor só acontece uma vez. Eu discordo. Para mim, amar é viver e se perdermos o amor, estaremos mortos? Penso que não. Acontece que a intensidade do sentimento não pode ter parâmetros, simplesmente acontece.
Cada vez que amei, era como se fosse à última. Bebia o amor até o fim numa doação total. Muitas vezes não era retribuída com o mesmo ardor, mesmo assim, representava o todo. Passadas décadas e décadas, não posso definir e muito menos classificar qual foi o melhor, o maior, o mais verdadeiro dos amores. Quando se ama, o mundo se fecha num círculo e não vemos nada. Só o objeto do nosso amor. Às vezes, a vida, de forma cruel intromete-se entre nós e dá-se o caos. Deixamos o país dos sonhos, acordando bruscamente para a realidade. O amor acabou. Lágrimas, desespero, desencantos. Aí pensamos! Nunca mais vou amar, ele era o único e verdadeiro. Ah! Que engano!
Adormecida a dor, recomposto o arcabouço do qual somos feitos, eis que pequenos raios de sol rompem as frestas do coração e a vida recomeça. Abrimos os olhos e não vemos mais os sonhos do passado. O céu retoma a cor azul, o verde do mar brilha e as flores tornam-se mais belas. Reiniciamos uma nova jornada. Livres e abertas ao porvir, vamos nós, homens e mulheres desfrutar de um novo amor. Desarmados, abrimos o coração e novamente ele surge.
A princípio temos reservas, medos, ansiedades. Porém o sentimento do amor é tão forte que tudo apaga e sorrateiro, quase escondido, se apossa de nós. Nunca será igual ao primeiro, segundo ou terceiro. É único em cada vez que toma conta do nosso coração. Muda apenas a forma como se apresenta. Na juventude quase sempre se remete à eternidade. Será para toda vida, pensamos. Que nada! Um dia acaba.
O amor também gosta de brincar de bandido, de massacrar, magoar, às vezes até mata. Pode ser responsável ou não, doce ou amargo, fiel ou infiel. Sim, existem amores infiéis, é difícil de acreditar, mas eles estão por aí espalhados, fazendo rir e chorar. Não interessa o rótulo, o bom é amar e ser amado, por isso dedico estas parcas e insensatas palavras aos meus amores de ontem, de hoje, ou quem sabe, de amanhã? Praia de Boa Viagem, agosto/2006.
Obs: Imagem enviada pela autora.