domingo, 7 de agosto de 2011

TEXTO DE PAULA BARROS



Olha, avalia, analisa, respira profundo, sente. Observa o texto como se fosse um médico legista observando um corpo recém chegado para autópsia. Sabe que o trabalho não é fácil, é sempre complexo, a leitura daquele corpo será minuciosa. Naquele corpo inerte, tem vida. Vibram histórias no sangue coagulado, nas vísceras expostas. Aquele corpo cheio de veias, artérias e órgãos, tem vida, mesmo que o coração aparente não pulsar. Mesmo numa pedra fria, é um corpo. A voz é outra. O ritmo é próprio. O enredo é preciso dissecar, com todo cuidado. São tantos órgãos a analisar, para descobrir o desfecho do enredo, como descobrir a causa mortis.

Há de se observar o todo, como quem observa os cortes, os machucados, as marcas roxas, o que está aparente e assim observar geral. Do jeito que a causa mortis pode estar nos órgãos internos, é nas entrelinhas que gosta de se deter.

Porque sente quente e vibrante aquele corpo de tantas linhas digitais. Pele longa que o encobre. Sangue coagulado que tenta escorrer das veias dissecadas.