Vladimir Souza Carvalho
Dos tempos de menino, em Itabaiana, três ditados fizeram morada na estante da memória, malgrado os janeiros passados. Não eram frases, nem provérbios. Simples afirmativas. Uma delas, num livro de história de determinados pratos, encontrei explicação. Esclareço, de antemão, a frase: pagando o pato. A explicação dava conta cuidar-se de um jogo, nos tempos de colônia. Um pato era comprado e amarrado numa madeira. As pessoas, a certa distância, atiravam uma faca. Quem acertasse e matasse o pato, ficaria livre das despesas relativas a compra do pato. Quem errasse, pagava o pato.
Depois, no livro As barbas do Imperador, encontraria o esclarecimento devido para a frase Maria vai com as outras. Maria, ou seja, D. Maria I, dada como louca, passeando na Rua do Ouvidor, no Rio, ao lado de várias damas de companhia. Maria vai com as outras loucas. Batata.
Pois bem. Falta um ditado que, até agora, malgrado as pesquisas, ainda não encontrei as origens: lavando a jega. Na minha visão, o ditado revela a presença de alguém levando vantagem com alguma coisa que a está a fazer. O lavando a jega é justamente a conduta do indivíduo sortudo que, no que realizou, ou esta a realizar, se cerca da vantagem devida. É como se descobrisse, para usar uma frase de Tobias Barreto, a fonte onde Diana toma banho. Mais ou menos, como ver a princesa nua. Bom, acho que é mais do que isso, porque enquanto no último caso Diana (a princesa) é vista no momento do banho, no caso da frase em tela, o indivíduo toca em alguma coisa preciosa. Ou seja, vai além, ao tirar proveito ou ter lucro.
Talvez eu esteja quente, mas acho que não desvendei ainda o segredo. Há uma explicação para o verbo lavar e para o substantivo jega. Os dois reunidos, como sujeito e predicado verbal, ligados pelo artigo a, simbolizam alguma coisa diferente, que termina – e aí acho que toquei de leve no mistério – levando vantagem ou tendo lucro. Ou, quem sabe, conseguindo triunfo.
Não me dou por satisfeito. Mais cedo ou mais tarde, quando menos esperar, leio em algum lugar a explicação devida, como já ocorreu no caso dos dois ditados anteriores. Enquanto isso não acontece, acredito que não incomodo ninguém em pedir socorro, ou seja, quem souber, me informe. Fico grato. Há uma premente necessidade de matar a curiosidade que me invade a mente desde longínquos anos. A idade já me permite invadir na explicação da história do ditado. É como se, com a descoberta, passasse eu a lavar a jega.
* vladimirsc@trf5.jus.br
Publicado no Diário de Pernambuco