Djanira Silva
Preciso da chuva para sentir a alegria do sorriso de um arco-íris atravessando o meu olhar.
Choro e sinto nos meus cabelos o deslizar de tuas mãos. No corredor da morte sorrio dos enganados, dos condenados à vida. Apenas me assusta o pio da coruja, o uivo do lobo, a risada da hiena, o olhar indiferente do homem.
Preciso voltar para escrever uma história sem fim. A menina me visita todas as noites e me ensina um jeito de encontrar as estradas, um jeito de abrir janelas nas paredes, de ver nas nuvens rebanhos de carneirinhos ou a imagem do Padre Eterno.
Minha alma velha caminha sempre na mesma direção, passos contados, horas contadas, enganos numerados, um, dois, três e a esperança mentindo, nada se cumpre.
As coisas sonhadas não são verdadeiras e nunca saberei quando será dado o último suspiro.
Do ventre da mulher o homem expulso. Começou no paraíso.
Quando todos os corpos se tocarem, todas as mãos escreverem no ar o gozo da vida, estarei no caminho certo. Para me ensinar ganharás a luta, tocarás a flauta, afinarás o piano e juntos terminaremos essa história.
Eis a vida, a vida escrita em linhas retas, almas tortas trocadas nos caminhos da ida.
Sozinho, não tinhas a quem mostrar a criação.
Rezamos ladainhas para implorar, responsos para encontrar e, no de profundis, aliviamos as dores das lágrimas retidas.
O olhar, silenciosamente, amortalha a dor nas pálpebras medrosas.
Nas madrugadas esquecidas aprendi um jeito especial de amar, de beber no teu corpo o vinho da entrega.
Escrevo hoje, histórias de uma dor escorregadia e lenta, atrelada às horas, à vida, a que segura tempo e silêncio, silêncio que sufoca a alma extraída da solidão, a que foi dada ao homem, a que ele não pediu e nem conhece.
Espero, espero sempre, alguém para comigo atravessar a dor.
Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega -