Mario de França Miranda
Nosso tema pode ser abordado de várias perspectivas, todas válidas e pertinentes. Escolhemos intencionalmente uma delas. Consideramos a mídia enquanto uma cultura específica e com ela confrontaremos o Evangelho. Renunciamos assim a tratar da questão da ética nos meios de comunicação, do acidentado relacionamento da Igreja com o “meio mediático” ou da melhor estratégia para estar nele presente e atuante.
O Evangelho de Jesus Cristo é uma mensagem de salvação para homens e mulheres. Mensagem que deve ser compreendida por seus ouvintes, para poder transformar suas vidas e fazê-los experimentar a salvação de Deus. Por isso o Evangelho sempre foi proclamado através das mais diversas linguagens. De Jesus Cristo até nossos dias as diferentes culturas constituíram sempre a mediação indispensável para que o gesto salvífico de Deus alcançasse e transformasse a humanidade. Culturas semita, latina, grega, eslava, germânica, no passado, culturas africana, asiática, indígena, em nossos dias.
Naturalmente a inculturação da fé acarreta, como conseqüência inevitável, que elementos contrários ao Evangelho presentes numa determinada cultura sejam transformados ou simplesmente supressos, pois só assim poderá ela desempenhar seu papel de mediação do Evangelho. Por detrás destas correções está o reconhecimento de que o egoísmo humano se sedimenta também nas expressões culturais. Este processo purificador, conhecido como evangelização das culturas, não invalida a tese mais fundamental, que afirma poder o Evangelho de Jesus Cristo ser entendido, proclamado e vivido em qualquer cultura.
Esta afirmação conserva seu valor para além das culturas nativas, regionais ou nacionais, já que abrange também, por exemplo, a cultura dos jovens e a cultura urbana. Contudo, em nossos dias, esta tese se vê questionada por uma nova cultura que, para muitos, se revela incapaz de mediatizar a mensagem cristã da salvação. Eu me refiro à assim chamada “cultura mediática”. Trata-se de um fenômeno relativamente novo em suas proporções e em seu alcance, que apenas começa a ser estudado seriamente pela Igreja.
Fatos recentes, de todos conhecidos, reforçam nossa afirmação. O debate em torno da figura e da atuação do Pe. Marcelo Rossi agitou a opinião pública, ganhou destaque nos jornais e acabou repercutindo dentro da própria CNBB. Ouvem-se aplausos entusiastas e críticas duras ao modo como transmite o Evangelho nas celebrações, nas orações, nos cantos. A mesma reação pode ser observada, naturalmente em tamanho menor, em outras partes do Brasil, provocada pelo surgimento de sacerdotes, religiosas ou leigos que também empregam sobretudo a televisão para proclamarem o Evangelho. O problema é real e deve ser encarado de frente.
Anos atrás dizia o cardeal Martini, de Milão, que a Igreja ignorava ainda a “linguagem mediática”, provocando reações que afirmavam a incompatibilidade da mensagem cristã com esta linguagem. Estamos realmente às voltas com um gênero cultural incompatível com a fé cristã? Daí a urgência desta nossa reflexão.
Antes, contudo, uma observação. Pressupomos sempre que a linguagem mediática seja sempre empregada com a finalidade de levarem homens e mulheres a viverem os valores evangélicos. Assim não abordaremos emissões “religiosas” orientadas, em última instância, para fins lucrativos, que utilizam meios fraudulentos, mas eficazes, aproveitando a dramática situação e explorando a boa fé do povo.
1. Evangelho e mídia: realidades irreconciliáveis? Evangelho significa “boa notícia”, que consiste na revelação do amor incondicional de Deus por todos os seres humanos, especialmente pelos mais desfavorecidos. Esta revelação constitui a plenitude e o fecho de uma manifestação progressiva de Deus ao longo da história do povo israelita. Ela acontece na pessoa de Jesus Cristo, em suas ações e em suas palavras. Estas revelam não somente a personalidade única e inédita do Filho de Deus, mas também o que com ela se achava intimamente conexo: uma imagem própria de Deus a quem Jesus invocava como Pai, um comportamento ou uma práxis específica para corresponder a este Deus, uma concepção própria da existência humana, da sociedade, da vida do além, enfim tudo aquilo que constitui o que hoje conhecemos como a “fé cristã”.
Fundamental aqui é a resposta livre do ser humano ao gesto de Deus. Os ensinamentos de Jesus servem para iluminar esta opção consciente do homem. Opção séria e decisiva por comprometer toda a vida, já que se trata de acolher e vivenciar o sentido último de sua existência, oferecido por Deus na pessoa de Jesus Cristo.
A vida de Jesus Cristo foi exatamente a resposta perfeita do homem à vontade do Pai, implicou total obediência, por vezes heróica mesmo, e desembocou na ressurreição. O que aconteceu com Ele também ocorrerá conosco, seus discípulos e seguidores, desde que trilhemos o mesmo caminho por ele palmilhado. Acolher o Evangelho é procurar viver a existência de Jesus, é experimentar já nesta vida a salvação que se manifestará plenamente em nossa ressurreição.
Portanto anunciar o Evangelho não é primariamente relembrar figuras históricas, expor doutrinas religiosas ou conquistar novos adeptos. A proclamação do Evangelho, o kerigma, é antes de tudo interpelação: um convite à liberdade, um apelo a uma vida nova, um chamado à conversão. “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15), já dizia Jesus.
Por atingir a totalidade da pessoa humana, sua vida afetiva, social, cultural, profissional, econômica e política, acaba esta opção pelo Evangelho por afetar as múltiplas dimensões do ser humano, devendo todas elas se converterem aos valores evangélicos. Todas devem ser “batizadas” ou cristianizadas. A expressão religiosa só será autêntica quando as demais dimensões não religiosas do ser humano de fato forem vertebradas e estruturadas pelos valores evangélicos. E tudo isto é fruto da graça de Deus que provoca e simultaneamente capacita o homem para responder livremente.
A adesão ao Evangelho é um processo longo que abarca toda a nossa vida. Novos contextos, novos desafios, novos apelos exigem novas conversões, novas adesões, novos compromissos. A pluralidade de setores onde acontecem estas conversões exige reflexão, senso crítico, juízos éticos, avaliações ponderadas, diálogos sinceros consigo mesmo, oração e silêncio. A evangelização autêntica nunca é instantânea ou superficial. E sobretudo deve ir fundo e atingir a liberdade das pessoas. Enquanto não chegar a este nível, mesmo deslumbrando a inteligência, entusiasmando a emotividade ou embalando a fantasia, ela não passa de uma etapa prévia ao seguimento efetivo de Jesus Cristo, que somente tem início com o compromisso responsável da liberdade.
2. A linguagem mediática: Mídia como cultura. Embora esta expressão abarque os diferentes meios de comunicação social, vamos utilizá-la aqui sobretudo para caracterizar a linguagem televisiva, sem excluir naturalmente as demais. Linguagem deve ser compreendida num sentido amplo e denso da palavra. Seu conteúdo semântico eqüivaleria portanto ao significado da palavra cultura. Deste modo a mídia não se resume a ser apenas um “meio”, um canal de comunicação, mas se constitui como um autêntico contexto cultural próprio.
Mais adiante mostraremos como esta afirmação é correta e fundamentada. Enquanto transcende o nível de simples instrumento mediático erigindo-se em cultura mediática, a linguagem dos meios de comunicação, de modo especial da televisão, exige de nós uma reflexão mais séria.
Importância da cultura, pois é ela que fornece nossa identidade, plasma nossas estruturas mentais, configura nossa afetividade e nos capacita a interpretar a existência. Ela constitui mesmo nossa vida social ao nos fornecer orientações que modelam nosso comportamento. Caso contrário, não conseguiríamos governar nossos impulsos, conviver com nossos semelhantes e atuar na natureza.
Observemos ainda que a cultura não representa apenas uma grandeza iluminadora e normativa da vida social, encontrando-se contudo dela separada. Pois a cultura viva está sempre embutida no comportamento das pessoas e nas práticas sociais. Toda cultura é não só representação, mas também ação. Somos não só conhecedores, mas ainda atores culturais.
Esta cultura não é uma grandeza, conhecida e vivida, porém estática. Pois constitui, isto sim, um processo vivo sempre a produzir, utilizar e transformar as imagens que temos da realidade e as orientações que dispomos para agir, conforme o exigem novos dados e novos desafios.
3. A cultura mediática. A linguagem mediática possui todas estas características da cultura, porém de modo específico. De fato nos fornece uma visão da realidade e um ethos correspondente, afeta nosso imaginário e muda nosso comportamento, localiza nossas preocupações e estimula nossas aspirações. Isto tudo se deve à forte influência exercida por esta linguagem mediática em nosso atual contexto sociocultural. Na opinião de João Paulo II a mídia audiovisual representa “o principal instrumento de informação e de formação, de guia e inspiração dos comportamentos individuais, familiares e sociais”. Assim se confirma que não estamos lidando apenas com um meio neutro, mas com uma fonte real de significados e atitudes, de estímulos e metas, numa palavra, com uma cultura. Algumas características desta cultura mediática:
a) A linguagem visual. Grande parte do fascínio e do sucesso das emissões televisivas está na facilidade de se captar a comunicação feita através das imagens. A aceleração do rítmo de vida, o conseqüente cansaço e a exiguidade de tempo disponível consagram a lei do menor esforço, propiciando o domínio inconteste da comunicação através dos sentidos. Sem dúvida alguma a informação, que dispensa a atitude reflexiva e crítica, que não contextualiza os acontecimentos, tende a ser superficial, episódica, objeto de consumo, podendo mesmo ser etiquetada como “entretenimento”.
Esta linguagem desanima exposições mais sérias, porque exigem mais tempo, e consagra apresentadores que P. Bourdieu classifica como “fast-thinkers”. Temas mais complexos são apresentados simplificados, facilmente assimiláveis, deixando no silêncio suas verdadeiras causas, sejam elas de cunho religioso, cultural, social, econômico ou político.
Esta leitura mediática reelabora em sua ótica os temas religiosos, podendo transformá-los em entretenimento. Com isto a proclamação cristã restaria prisioneira do âmbito informativo, perdendo assim sua característica fundamental, a saber, interpelação e apelo à liberdade humana para uma conversão ao Evangelho. Não se nega o impacto das imagens no público televisivo; apenas se questiona seu efeito real na vida das pessoas.
b) A pressão do fator econômico. Esta segunda característica aponta para o alto custo das emissões mediáticas, especialmente televisivas, que acabam por subordiná-las aos patrocinadores. Estes, por sua vez, apenas se interessam por um público de audiência cada vez maior, que compense o investimento feito através do sucesso de venda de seus produtos. Neste momento os índices de audiência ganham uma importância desmesurada e se tornam a preocupação principal dos que trabalham na mídia.
Esta mentalidade age como uma censura camuflada, eliminando ou transformando informações de peso ou produções de boa qualidade. E, naturalmente, priorizando outras de valor duvidoso mas que garantem bons dividendos. A luta pelo público por parte dos diversos canais pode levar tais programas a níveis lamentáveis, como aconteceu recentemente em nosso país.
A evangelização mediática não pode escapar da mentalidade-índice-de-audiência. Deste modo a proclamação da fé corre o risco de se ver, na mídia, reduzida ao que garanta maior freqüência ou diluída ao que facilite maior consumo. Priorizando o sensacional, o emotivo, o chocante, acaba a mídia por canonizar a “Igreja-espetáculo”, deixando em silêncio elementos mais importantes da vida cristã: a fé viva, a oração, as obras de caridade, o esforço missionário, as renúncias cotidianas.
c) A homogeneização dos conteúdos. Com isto chegamos à terceira característica que consiste na tendência a homogeneizar os conteúdos transmitidos pela mídia. Pelo fato de produzir para um grande público a mídia tende a padronizar suas emissões para poderem atingir a todos. São elas destituídas de tudo o que possa limitar ou diminuir um possível público. Tendem a reproduzir ideologias e valores da cultura dominante. Tornam-se assim homogeneizadas para não apresentarem asperezas ou levantarem problemas. Prioriza-se o sensacional, o chocante, o extraordinário, sem preocupação alguma de ir às suas raízes ou explicá-lo como parte de uma mais vasta problemática.
Portanto o que me é apresentado passou por um complicado processo de seleção e construção de imagens. O acontecimento só se torna notícia quando se vê transformado num “produto noticiável”. Trata-se sempre de uma realidade “construída”. O mesmo tratamento receberão os temas religiosos. Também eles serão traduzidos numa versão soft, universal, que enfatiza o informativo e atrofia o interpelativo. Porém o Evangelho é não só informação, mas também interpelação e autocomunicação de Deus.
A linguagem das imagens pode escamotear a questão da verdade do que é emitido. Aceitam-se as imagens como representações sem mais da realidade. E não se põe a questão se são realmente verdadeiras para não dividir o auditório. O que pode acontecer também na emissão religiosa, considerada então mais um objeto de conhecimento, a ser consumido nas mais diversas modalidades pelo grande público. Freqüentemente estas leituras disparatadas acontecem já durante a própria emissão.
Confrontando as exigências intrínsecas à proclamação do Evangelho com as condições impostas pela linguagem mediática, parece-nos, à primeira vista, bastante improvável falarmos de uma possível inculturação da fé na linguagem mediática sem mudanças substanciais nesta última. Mesmo o uso da mesma para a evangelização, depois do que vimos, revela-se problemático. Como dizem alguns: o conteúdo é cristão, mas o soft-ware que o transmite tem sua lógica própria que pode reduzir ou até deformar a mensagem.
Um acordo necessário. Apesar das dificuldades apresentadas o Evangelho necessita da linguagem mediática para ser proclamado. Pois esta linguagem condiciona fortemente nossa atual cultura. “Vivemos com a mídia e pela mídia”, como já se escreveu. A mídia audiovisual constitui o material básico dos processos de comunicação, fornecendo símbolos, induzindo comportamentos, afetando inconscientes, privilegiando temáticas. O meio é a mensagem porque configura de certo modo as ações e associações humanas. “É uma atmosfera, um ambiente no qual se está imerso, que nos envolve e nos penetra por todos os lados”.
Além disso a mídia se apresenta em nossos dias como o palco dos acontecimentos e das realidades na sociedade. Gastam-se fortunas na publicidade, embora por vezes com escassos efeitos, porque não estar presente na mídia eqüivale hoje a não existir sem mais. Que o digam os políticos. Portanto, mesmo correndo o risco de receber leituras não intencionadas e de se encontrar deturpado, deve o Evangelho ser proclamado mediaticamente. Daí a afirmação de João Paulo II: “é necessário integrar a mensagem cristã nesta nova cultura, criada pelas modernas comunicações” (RMi 37).
Outra razão de peso diz respeito ao indispensável respaldo social à fé individual. No passado o cristão recebia esta ratificação da própria sociedade, já que a cultura dominante estava fortemente impregnada pelo imaginário e pelos valores evangélicos. Era o tempo da cristandade. Hoje vivemos numa sociedade pluralista com múltiplas e diversificadas fontes de sentido e normas de ação. A fé cristã deve alcançar o espaço público, para assim poder respaldar as convicções e práticas religiosas dos católicos num contexto sociocultural indiferente ou mesmo hostil. Ninguém melhor do que João Paulo II entendeu esta necessidade, ao arrastar multidões para as ruas e praças, ocupando assim largos espaços da mídia televisiva e jornalística.
Um acordo possível. A possibilidade provém primeiramente do fato que todo conteúdo emitido é sempre, embora em graus diversos, reciclado pelo espectador. Mais difícil no caso da televisão pelo intenso envolvimento do público, provocado pelas imagens e pela linguagem não falada que elas veiculam. Mas possível, pois é de fato o que vem acontecendo. Programas de cunho religioso, alguns deles bastante simples na apresentação e normalmente fadados ao fracasso, conseguem altos índices de audiência pela recepção devota por parte de telespectadores, imbuídos de profunda religiosidade, como acontece com a missa e a reza do terço televisadas.
Um outro fator diminui sensivelmente os efeitos nocivos das características mediáticas anteriormente mencionadas. A presença de inúmeros canais, por cabo ou satélite, causou o fim da audiência de massa, caracterizada pela simultaneidade e pela uniformidade da mensagem recebida. Com a multiplicidade das mensagens e das fontes, a própria audiência se torna mais seletiva, podendo escolher suas mensagens, estimulando assim emissões mais consistentes e inteligentes. Realmente assistimos hoje ao surgimento de novos canais que tratam mais seriamente temas sociais e culturais, facilitando assim que o próprio Evangelho seja proclamado como convém. De fato a diversidade das emissões visando a um público concreto nos permite afirmar, parodiando McLuhan, que “a mensagem é o meio”, pois a especificidade do conteúdo moldará, ao menos parcialmente, as características do meio.
4. Evangelho e mídia: condições para uma ação conjunta. Este é o ponto mais difícil do nosso tema, pois exige ousadia e criatividade. Contando com a colaboração deste auditório apenas daremos início a uma reflexão a ser enriquecida pelas intervenções posteriores. Mencionaremos brevemente três pistas.
A necessidade de complementação. Não podemos propriamente falar de uma inculturação do Evangelho numa cultura mediática. Por um lado, a alta funcionalização da linguagem da mídia faz dela, talvez, o fator de maior influência no atual contexto sociocultural. Por outro lado porém, e pela mesma razão, a torna inepta para fornecer a cosmovisão e o ethos, que orientem a vida humana em sua totalidade. Consequentemente não pode haver um “cristianismo mediático”, como existe um latino-americano, europeu ou africano. Este fato já nos indica, de antemão, que qualquer expressão mediática do Evangelho será inevitavelmente fragmentária, exigindo portanto ulteriores complementações.
Como expressão limitada da fé a linguagem mediática recebe do próprio anúncio do Evangelho no Novo Testamento um aliado importante. De fato, o querigma foi proclamado através de múltiplas modalidades comunicativas: pregações, atos de culto, testemunhos de vida, martírios, confissões de fé, recepção de sacramentos. A história do cristianismo nos permite incluir ainda esculturas, pinturas, arquiteturas, músicas, artes cênicas. Todas foram legítimas depois de devidamente “evangelizadas”, mas todas igualmente foram expressões válidas, mas parciais da mensagem evangélica, complementando-se mutuamente.
Este dado histórico depõe a favor da linguagem mediática. Pois não podemos exigir que transmita plenamente, em toda a sua riqueza, a mensagem salvífica cristã. Esta cobrança que, freqüentemente, lhe tem sido feita, parece-nos exagerada. Constitui mesmo um dos pontos problemáticos no recente debate em torno da atuação do Padre Marcelo Rossi.
Sem dúvida alguma a comunicação mediática é parcial, enfatiza alguns aspectos e silencia outros, devendo ser complementada por outros gêneros comunicativos. Deste modo advogamos a inserção da mediação mediática numa pastoral mais abrangente, que questione sua auto-suficiência pela inclusão de outras linguagens e pastorais. Caso contrário poderá favorecer uma religiosidade individualista, desenraizada de uma comunidade de fé, frágil e ilusória.
A formação do espírito crítico. Tudo o que foi observado na primeira parte desta exposição sobre as deficiências da linguagem mediática, a saber, predomínio da imagem, pressão do índice de audiência e tendência a homogeneizar a matéria comunicada, exige lucidez e clarividência, sobretudo diante das emissões que tratam de temas cristãos ou que pretendem anunciar o Evangelho.
De fato, a influência subliminar das imagens, com enorme força persuasiva por sua atuação no inconsciente humano, pede a formação de uma consciência crítica, que desmascare o que há de ideológico, parcial ou falso por trás da “realidade” apresentada pela mídia. Tudo o que é produzido pela mídia veicula valores e estilos de vida, embutidos na cultura ou ideologia dominante. Será que a vida familiar das novelas corresponde de fato à realidade das famílias brasileiras?
Aprender a linguagem mediática. Significa tratar a mídia não só como instrumento, mas sobretudo como cultura, que afeta fortemente a atual sociedade. E que questiona também a linguagem “tradicional” da Igreja, pedindo diálogo honesto e ousadia para acolher, embora criticamente, esta nova forma cultural. Sem dúvida uma tarefa ingente e que compete a todos nós.