lioza.correia@gmail.com
O excelente artigo de autoria do Pe.Mário de França Miranda, cujo conteúdo foi objeto de estudo e discussão na recente 49ª Assembleia dos Bispos do Brasil, tendo sido publicado pela CNBB, faz uma análise objetiva e realista dos aspectos que devem ser considerados como anti-evangelizadores na Igreja, além de mostrar outros em que a Igreja deveria se apoiar para obter mais êxito no seu papel primordial que é a evangelização. Assim, o teor do texto suscita, naturalmente, uma reflexão para alguns pontos que merecem nossa avaliação crítica, especialmente no que diz respeito a algumas posições estabelecidas ou assumidas pela Igreja, que em nada favorecem e até, pelo contrário, dificultam a maior conscientização e o entrosamento dos fiéis no processo de evangelização que é para todos, indistintamente.
Nesse sentido, tomo por base alguns desses pontos analisados com muita propriedade e sabedoria por quem conhece as fragilidades da nossa Igreja "santa' em sua essência, face ter sido edificada por Jesus Cristo: "Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarei minha Igreja", mas, também, "pecadora", posto que é formada por pessoas humanas frágeis e imperfeitas, passíveis de acertos e erros. Assim, concordando plenamente com os caminhos,ora apontados, para uma nova evangelização, na condição de leiga cristã e membro dessa Igreja que amo e a qual pertenço pelo batismo e pela fé em Jesus Cristo, apresento algumas observações atinentes a problemas recorrentes, relacionados com as questões tratadas nesta análise conjuntural. Destaco em negrito minhas observações pessoais sobre alguns temas abordados no texto à epígrade, recortados e transcritos em itálico e entre parêntesis, como se vê abaixo:
3 - A missão da Igreja:
"... Daí ser a nova evangelização a missão fundamental da Igreja (L 10). E como todos os batizados constituem a comunidade eclesial, todos eles, por serem católicos, devem também ser missionários. Razões históricas, que não nos cabe aqui discutir, limitaram ao clero a atividade pastoral, levando o laicato a uma passividade que perdura até nossos dias, e que, felizmente, começa a ser superada." ........
- Entretanto, essa mentalidade tem mudado muito lentamente. Observei que, numa celebração Eucarística da 49ª Assembleia dos Bispos do Brasil, um bispo que estava presidindo a celebração, saudou os outros bispos, os padres, os diáconos, religiosos e religiosas e ignorou solenemente a presença dos leigos. Não se dirigiu a eles, sequer, para tratá-los por irmãos ou fiéis. Como se tratava de um bispo emérito, é possível que no seu tempo de bispado ainda não houvesse a Sacrosanctum Concilium ensinando que por força do batismo todos são celebrantes. A propósito, um certo vigário geral, nos tempos de hoje, ainda diz: "leigo é como unha, quando começa a crescer precisa ser cortada". Infelizmente, essa é a mentalidade de boa parte do clero. O fato é que o protagonismo dos leigos que foi uma das coisas importantes afirmadas pelo Concílio Vaticano II, não é respeitado e muito menos valorizado, ainda hoje, pela Igreja que continua sendo clerical e centralizadora.
" ...Deste modo, “o problema da falta de fecundidade da evangelização hodierna é um problema eclesiológico, que diz respeito à capacidade de a Igreja se configurar, ou não, como uma comunidade real, como uma verdadeira fraternidade, como um corpo e não como uma máquina ou uma empresa” (L 2)." .......
- Na verdade, as estruturas da igreja, especialmente a das grandes paróquias, bispados com suas catedrais, assumem a prática empresarial, tornando-se verdadeiras empresas, a exemplo de uma determinada paróquia que é conhecida como a maior empregadora do bairro onde está localizada, canalisando os recursos decorrentes do dízimo e de atividades promocionais arrecadadoras, em sua maior parte, para o pagamento de salários e encargos sociais dos vários empregados ali existentes.
" ...Se no passado só a hierarquia tinha voz ativa e o comando das iniciativas, naturalmente o laicato se comportava como uma massa silenciosa, obediente e passiva. Portanto, não conseguiremos incutir no laicato uma consciência missionária se não oferecermos novas estruturas de comunhão e de participação."
- Essa mudança passa, certamente, pela inclusão de todos no processo de evangelização. Assim, não se justifica que numa paróquia onde são celebradas cinco missas dominicais, as comunidades do entorno próximo, só tenham uma celebração eucarística, cada uma, a cada mês, sendo alimentadas pela oração do Ofício Divino das Comunidades, pela Celebração da Palavra e pela vivência de muito devocionismo. E outras paróquias que possuem comunidades distantes, não têm sequer a Celebração da Palavra. Entretanto, as igrejas matrizes têm missa diária, mas os padres não se dignam de se desinstalar para irem ao encontro dos muitos que necessitam de serem incluídos na evangelização, através de mais presença paroquial e pastoral nessas comunidades.
4. Iniciação à vivência cristã
" ...A iniciação cristã constitui um processo em vista de um encontro cada vez maior com o Filho de Deus (DAp 289). Este processo se inicia por um encontro inicial com o Mestre de Nazaré através do anúncio salvífico (querigma) e da ação missionária da comunidade, ao qual se segue a resposta correspondente na mudança de vida (conversão) que se desenvolve gradativamente ao longo do discipulado, alimentado pela catequese e pelos sacramentos."
- Neste aspecto, é sabido que a iniciação cristã que vem sendo aplicada pela Igreja há séculos, baseada numa catequese destinada à recepção dos sacramentos do batismo, da eucaristia e da crisma, tem se mostrado deficiente e obsoleta. Finalmente, a Igreja vem reconhecendo no processo do catecumenato, um caminho eficiente e formador, através do qual a evangelização de crianças e adultos poderá se realizar com maior conscientização e aprofundamento na fé cristã, como experiência para toda a vida.
5. Igreja Local e comunidades menores
" ...Afirma o Concílio Vaticano II : “Não se edifica no entanto nenhuma comunidade cristã se ela não tiver por raiz e centro a celebração da Santíssima Eucaristia” (PODAp 180). 6). Já o Documento de Aparecida faz eco a estas palavras quando assevera que “todas as comunidades e grupos eclesiais darão fruto na medida em que a Eucaristia for o centro de sua vida e a Palavra de Deus o farol de seu caminho” (Entretanto a realidade eclesial hodierna nos oferece numerosas comunidades eclesiais privadas da eucaristia pela escassez de ministros ordenados."
- Em virtude da falta de padres, a Igreja poderia preparar e estimular o leigo para dar seu testemunho comunitário e evangelizador, celebrando a Palavra, onde o padre não vai, ou não consegue chegar, porquanto, é sabido que Jesus Cristo é presente, também, na assembléia reunida em seu nome e quando se celebra a Palavra. Recentemente, participando de um curso sobre o Ministério de Proclamadores e Salmistas, foi dito que uma comunidade sobrevive sem a Eucaristia, mas não sem a Palavra, citando como exemplo, exatamente a situação das comunidades distantes, que mantém viva sua fé, através da frequente celebração da Palavra de Deus.
6. Igreja e realidade sociopolítica
" ...O cristão não pode ceder de modo simplório ao “maniqueísmo político”, nem cair na tentação do “evangelismo político” que identifica a fé cristã com alguma opção política concreta (GS 43)." .......
" ...Logo pode um bispo emitir sua opinião pessoal, em nome próprio e para seus diocesanos, sobre temas da vida política, como observa a Nota da CNBB por ocasião das últimas eleições (08/10/2010)."
- Contanto que os bispos evitem o acirramento de temas que sejam bandeiras empunhadas por determinados candidatos, a fim de que o pronunciamento oficial emitido por um bispo em sua diocese não pareça desqualificar os demais candidatos, tendo em vista o respeito à liberdade dos fiéis e um possível efeito contrário ao pronunciamento pastoral, como sóe acontecer, também, na eleição de 2010, quando do envolvimento pessoal de bispos e padres na campanha eleitoral de um dos candidatos.
- Com merecidos encômios ao autor, pelo excelente trabalho de conscientização e evangelização.