D.Edvaldo G. Amaral *
A Senhora do sonho dos nove anos recomendara a Joãozinho Bosco que se tornasse “humilde, forte e robusto”. Sua terra natal, sua condição de camponês, trabalhador da terra, a vida austera na atividade do campo lhe asseguravam robustez, própria de sua condição. É bom notar que absolutamente, sua situação social não era de extrema pobreza, pelo que seu pai deixara em testamento (Braido, vol. 1, pg. 113).
Assim crescera João Bosco na sobriedade e na austeridade dos campos de Castelnuovo d`Asti no Piemonte, norte da Itália, “forte e robusto” como lhe dissera a Virgem do sonho.
Dom Lemoyne, seu biógrafo, fala de “malferma salute” (saúde precária) de João Bosco quando seminarista. Mas ele mesmo narra fato extraordinário, contrariando tal afirmação.. Em 1840, após um mês de cama, com insônia contínua e absoluta inapetência, o seminarista Bosco foi desenganado pelos médicos. Mamãe Margarida, sem nada saber, foi visitá-lo e levou-lhe um grande pão de fabricação doméstica e uma garrafa do generoso vinho das colinas de Asti . Encontrando-o assim enfermo, queria levar de volta o alimento e a bebida que trouxera, por achá-los ambos absolutamente inconvenientes ao seu estado de saúde. Ele, porém, suplicou à mãe que deixasse tudo ali, à sua cabeceira. Quando a mãe saiu, começou a provar um pouco do vinho e uns pedaços do pão. A seguir, comeu o pão todo e bebeu toda a garrafa de vinho. Entrou em profundo sono, que durou uma noite e dois dias seguidos. Os superiores do Seminário consideravam aquele sono precursor da morte. Mas João, ao acordar, ante o estupor de todos, estava completamente curado e retomou de imediato suas atividades ordinárias de estudante seminarista. (MB vol. I, pg. 482)
Na instalação definitiva do Oratório, no prado de Valdocco, periferia de Turim, em 1846, Dom Bosco sofreu forte crise de estafa, que o levou às portas da morte. Após período de repouso e vida nos campos da terrinha natal, voltou com sua Mãe para Turim, onde retomou com vigor o iniciado trabalho em favor dos jovens abandonados ou empregados nas construções, que perambulavam sem rumo pela capital do Piemonte.
O volume IX de suas Memórias biográficas (são 20 ao todo, incluindo o Índice Geral) a páginas 945, fala de uma estranha doença de Dom Bosco, com a dilatação de sua calota craniana, por volta do ano 1870, após seis meses de contínua dor de cabeça. No início do ano letivo de 1871, portanto em outubro, em Varazze, onde fora em visita aos alunos, contraiu grave enfermidade na pele que o reteve naquele colégio, recém-inaugurado, só voltando a Turim na metade de janeiro do ano seguinte (MB X, pgs. 227-312)
Também em 1884, portanto a menos de quatro anos antes de sua morte, os médicos constataram um desvio de sua costela externa (MB IX pgs. 945)
Conta-se ainda que, no fim da vida, os médicos declararam que sua doença, não era outra, a não ser um total esgotamento de suas forças físicas, comparando-o a um tecido, que se esgarça pelo uso excessivo e prolongado.
É o que sabemos das fontes seguras da biografia de nosso Pai, Dom Bosco, “humilde, forte e robusto” como lhe dissera nos albores da existência, Aquela “que tudo fez”.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.