Ronaldo Coelho Teixeira
No escancarar das portas do Século XXI, e engalfinhados na era da sociedade de consumo e da globalização, eis que ironicamente quem assume o papel principal na vida humana é a solidão.
É assim, com espanto, que presenciamos as pessoas – a maioria em todo o mundo – cada vez mais solitárias e neuróticas, além da crescente timidez, principalmente entre as crianças e os jovens, apesar dos celulares que mais parecem mini-computadores, e da internet, com suas redes de relacionamento e tudo o mais.
Hoje, do Ocidente ao Oriente, uma pessoa pode obter tudo o que necessitar, desde alimentos, calçados e roupas, eletroeletrônicos e até quaisquer materiais de anseio intelectual como livros, revistas, CDs, DVDs, entre outros, sem sair de sua casa ou apartamento. Tudo via máquinas.
E quando saímos às ruas, para resolver qualquer problema, o que acabamos encontrando à nossa frente? Máquinas! Assim, chegamos a um caixa eletrônico, realizamos o que tem de ser feito e nem percebemos – tão máquinas que nos tornamos – que pagamos para trabalhar. Mas o termo é chique: serviço de auto-atendimento.
Não nos atentamos para o fato de que o isolamento não faz bem a ninguém, pois a pessoa nessa situação não consegue evoluir, pois só nos medimos a partir do outro. Como conseqüência, a pessoa isolada vai ter muita insegurança e ainda uma crescente queda da auto-estima. Desse quadro, sobram os terríveis casos de jovens que saem atirando em todo mundo, o que já vem acontecendo até no Brasil.
Não percebemos também que as máquinas ocultam os trejeitos e os gestos, fatores primordiais no relacionamento humano. Assim, não captamos o essencial, ou seja, a revelação ou as entrelinhas resultantes do contato com o outro, e que nos faz crescer.
O cruel disso tudo é que nessa louca contradição existente entre o aumento na variedade dos meios de comunicação e o crescente distanciamento entre as pessoas, a erva daninha das alienações política, econômica e social, multiplicam-se abundantemente. O resultado é uma corrupção generalizada e a falência do Estado em garantir os direitos básicos da cidadania, o que, infelizmente, também já acontece há muito por aqui.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos $ Sustos
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