domingo, 15 de maio de 2011

ELEGIA AOS NÁUFRAGOS

Cairo de Assis Trindade


Os viciados embarcam em suas estúpidas viagens,

alheios à vida, perdida entre o absurdo e o caos.

Alguns se arrastam, solitários, sob as asas dos vampiros;

outros rastejam em bandos, espectros do espanto,

embriagados, em surto de obsessão/compulsão.

Surdos e soturnos, muitos erram, vorazes, pelos cantos,

espreitando qualquer coisa entre abismo e escuridão.


Os viciados perambulam pelo mundo artificial dos deuses

e entregam suas almas ao tráfico do inferno,

imaginando ouro em pó, doces ácidos, êxtases-vertigem,

bebendo paraísos e injetando químicas quimeras

no sangue infectado de elixires, ópios e (des)ilusões.


Navegam, à deriva, pelas sombras dos instantes,

carregando pesadelos, vômitos, delírios,

culpas, clínicas, hospícios, e naufragam no vácuo do breu.

Românticos, patéticos, estranhos estrangeiros,

jogam-se, ávidos, ao êxodo e ao exílio

e à mágica da invisibilidade, última e única libertação.


Os viciados não se amam. Os viciados não vivem.

Os viciados não vão. Distantes de si e de tudo,

são levados, fantoches-fantasmas, a vagar em vão.

Suicidas, a cada dose um anjo envenenado no coração.


E morrem sem saber que a vida
é magia, viagem, divina alucinação.