domingo, 22 de maio de 2011

DAS COISAS QUE ME FOGEM O CONTROLE *


Betto Santos**


Me foi pedido o número do telefone. Quem me ligaria seria o dono de uma voz já conhecida, mas que não ouvia muito ao telefone. O telefone tocou e, antes que vibrasse pela segunda vez, saquei-o. Lá estava eu, do alto dos meus vinte e tantos anos, perdendo totalmente o controle, de novo.

Será que existe algo mais emocional do que optar por ser racional, por medo de errar novamente? E o que é mais racional do que permitir que essa emoção guie cada um dos nossos passos? Às vezes são tão altas as vozes de fora, que a gente acaba não ouvindo o peito gritando. O meu peito é que gritou alto demais, calando as vozes de fora. Epifania. Compreensão súbita. Era como se estivesse tua imagem estampada em tudo que vejo. E aquela presença permanente no meu pensamento me fez percorrer a extenuante e perigosa trilha que me leva de encontro a ti.

Será que existe burrice maior do que saber todas as respostas? E sabedoria maior que a sabedoria de se deixar enganar? A gente pensa que, com o passar do tempo, aprendemos a pular as rasteiras que nos são passadas. Digo, por experiência própria, que existem tombos que eu adoraria tomar de novo. Me via novamente ansiosa. Tão ansiosa que passei a olhar pros lados, sempre achando ser a tua voz qualquer ruído que me atingisse os tímpanos. As vezes em que acertei são minoria, mas eu aprendi demais, justamente por errar demais.

Os minutos que a gente tem juntos viram dias e semanas em câmera lenta, dentro da minha cabeça. Meu coração está vazio, sem mobília. Mas tudo que eu preciso agora é de espaço pra te construir dentro do meu peito, com as poucas peças que tenho em mãos.

Com quem estou ao telefone? Com a saudade, que há muito não vejo. Ele está chegando, e não parece ter planos de ir embora tão cedo. Eu aguento. Basta que feche os meus olhos e dê play numas poucas horas de filme, e uma mísera foto sem resolução no meu celular. Cá estou eu, do alto do meu sétimo andar, perdendo o controle, de novo.

Tudo acontecia devagar. Tudo que ele fazia parecia, aos meus olhos, acontecer em câmera lenta. Como se dançássemos debaixo d’água.

Nada mudou: continua tudo mudando a todo minuto.


* Ou “Se eu pudesse ver com seus olhos”