domingo, 29 de maio de 2011

CAMINHOS DE LUZ


Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


          Quero voltar sempre aos mesmos lugares, com as mesmas saudades, as mesmas lembranças e a teimosia de um sonho que não me deixa em paz. Quero voltar eu, não essa de agora, cheia de baús, de tapetes mágicos e amarguras recentes. Quero ir em busca da minha inocência, da minha alegria barulhenta, dos meus brinquedos enterrados na areia, das minhas bonecas de pano, afogadas nas águas da chuva, da sombra das mangueiras florindo, do cheiro de goiaba madura, dos caminhos de barro e terra que não me levavam a lugar nenhum. Não quero voltar esta de hoje que já não se reconhece nem consegue se ver nos espelhos da sala.
          As grandes alegrias se transformam em saudade.
          Quero estar sempre voltando. As certezas do presente me crucificam nas angústias do agora.
          Quero ver, quero mesmo ver, alguém ser feliz com o que é. A felicidade é o que foi, tudo aquilo que se transformou no era uma vez...
          O sorriso que deixou alegria, o beijo que despertou desejos, o abraço que se fez carne e habitou entre nós.
          Sombras de sol, passadas miúdas, sorrisos de menina, raios de luar no meio do quintal, ruas estreitas, caminhos escondidos entre sombras e árvores floridas. Sinos de Natal, a melancolia do ângelus, criança adormecida.
          Quero ver alguém ser feliz com o que tem. A gente é feliz com o que deseja ter. O sonho imaginado, desejado, tornado real é pesadelo. O bom do sonho é ser sonho e pronto.
          Para que tornar realidade o que nos faz feliz?
          Não me impeças de voltar nem toques meu coração com as mãos sujas do teu esquecimento.