domingo, 3 de abril de 2011

SOCORRO PARA A VÍRGULA

Vladimir Souza Carvalho (*)


Procura-se, urgentemente, a vírgula, que deve estar aí, em algum lugar, coitada, escondida, traumatizada, relegada a um plano inferior, ante a falta de seu uso. Não diria nem do seu uso correto, mas, simplesmente, de seu não uso. Não no meu texto, onde figura com abundância, por ser eu um virgulista (não confundir com os adeptos de Virgulino) de marca maior. O problema está na falta de uso da vírgula em outdoor, a ponto de a vírgula ficar cada vez mais cheia de complexo, como se fosse um sinal ortográfico insignificante e sem nenhuma utilidade prática.

Ao ensejo em que a vírgula é buscada, na tentativa de salvá-la enquanto o tempo ainda permite um atendimento suficiente para enchê-la novamente do orgulho de ser vírgula, proclama-se a adoção de uma solução para o problema, que está cada vez mais crônico, denotando uma verdadeira guerra contra a vírgula, como se a vírgula não fosse nada, ou precisasse tomar uma bofetada para perder a pose.

E a solução, que ora exponho, na oportuna iniciativa de discutir o problema, aliás, gravíssimo, e em público, repousa nas mãos dos senhores vereadores, por se constituir naquilo que Constituição Federal denomina de interesse do Município. Urge (não sou muito chegado ao termo), portanto, que os edis aracajuanos comecem a pensar na matéria, encetando os estudos imprescindíveis para a elaboração de uma lei, tornando obrigatório o uso da vírgula em propagandas levadas a efeito em outdoor fincado em terras da cidade do Aracaju. É chegado o momento, ilustres legisladores municipais, de conferir a vírgula a importância devida, inclusive para dar por encerrada a terrível frase, atribuída ao professor, monsenhor, doutor Alberto Bragança de Azevedo, no sentido de que Sergipe não sabe virgular.

Dou um exemplo, extraído dos cartazes de militantes políticos, após a eleição. Um deles: Obrigado Sergipe, assim mesmo, sem a vírgula, a conferir um significado diferente do desejado. Em verdade, se quer agradecer ao eleitorado sergipano os votos recebidos na eleição. Seria, então, correto: Obrigado, Sergipe. Sem a vírgula, o sentido é outro e, ademais, incompleto, isto é, Sergipe foi obrigado a fazer alguma coisa. E tudo porque o elaborador do cartaz não utilizou a vírgula. Para evitar a vírgula, o ideal seria colocar o artigo a antes de Sergipe. Assim: Obrigado a Sergipe. Mas, sem a vírgula e sem o artigo, o significado é outro, completamente diferente do desejado.

Outro exemplo, colhido também dos cartazes de políticos: Valeu Sergipe, com o significado de proclamar que a candidatura saiu vitoriosa e daí ter valido a luta imensa para obtenção da vitória. Ora, Valeu Sergipe é o mesmo que Sergipe valeu, como se estivessem colocando um valor em Sergipe, que, ressalte-se, não está à venda.

Por isso, busca-se a vírgula, que está desaparecida, antes que morra da morte morrida e completa, antes que o sinal gráfico, que a representa, faça greve e desapareça dos livros e do teclado dos computadores e dos celulares, antes que o socorro buscado chegue com atraso.

Senhores vereadores, sugiro também uma pena a ser aplicada aos infratores, traduzida num curso de uma semana, só sobre o uso dos sinais gráficos, a começar pela vírgula. Errou, o caminho é aprender. Errou outra vez, a morte simbólica do culpado em uma forca na forma de vírgula, exibida em outdoor, à custa do próprio infrator (ah!, ah!, ah!).

Fico o pedido de socorro. Fica a sugestão. O passo seguinte é da alçada dos senhores vereadores. A ela, pois, bravos edis, na defesa da vírgula.


Publicado no Correio de Sergipe