domingo, 3 de abril de 2011
MÁGICAS DA FANTASIA
Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/
Jovens, temos certeza de que somos eternos, morte e velhice não existem. Nada ainda, sabemos do tempo. Ai, sim, o tempo. Ele, aos poucos vai destruindo esta sensação, numa corrida contínua e voraz, recolhendo e armazenando lembranças, que, aos poucos, vãosetransformando em fantasias.
Com os perfumes das primaveras o aconchego dos invernos, o calor dos verões e a nostalgia dos outonos, construímos um mundo de fadas sempre à nossa espera com os enganos de uma felicidade que pensamos haver existido, criando imagens cada vez mais fantasiosas com a cumplicidade da imaginação. As lembranças antigas são meio fadas, meio bruxas. Misturadas a elas, a fantasia pinta histórias. Da infância ficam as brincadeiras de roda, as primeiras experiências, as primeiras visões do mundo, do chão, da terra, da água dos frutos, dos pássaros. Dali voamos para as igrejas, praças, clubes e carnavais. Temos asas, podemos voar, temos sonhos, podemos sonhar. E o tempo? Ai, sim o tempo.
Velhas roupas das quais sequer lembramos da cor, com a força do imaginário se transformam em vestidos de contos de fadas enfeitados de estrelas e peixinhos dourados. Os sorrisos? Ah! Os sorrisos não não deixavam tempo para mais nada. Eram verdadeiros passes de mágica, desencantavam príncipes e castelos. E o tempo? Ah, sim o tempo.
E aqueles barulinhos que existem, mas ninguém escuta? O das folhas secas caindo, das folhas do tempo passando, das folhas da vida jogando num baú mágico tudo o que vivemos, quisemos viver, ou sonhamos a vida inteira? A maturidade abre as portas. Chega o juízo. Não, não é o final. É o juízo que faz a gente sofrer. Aquele que apaga sorrisos abre feridas, deixa cicatrizes. Ele chega sério, mandão: esqueça a criança, mate o adolescente, seja responsável. Ganhamos um novo mundo onde só cabe a realidade, uma realidade sem regras e sem manuais que ensinem a viver. E o tempo? Sim, o tempo nada mais é do que uma cartola mágica de onde pula um adulto descrente, cansado, prisioneiro de normas e mandamentos. Cerca eletrificada impede a fuga. Fugir? Para onde? Correr para a frente é apressar o tempo. Parar no presente é deixar de viver. Espera-se o indulto. A sensação de eternidade dá lugar às certezas. O tempo? Ora, ele sempre tem pressa.
Então, corremos para trás em busca dos sonhos guardados. Como quem confeita um bolo confeitamos nossas lembranças contando histórias que desejaríamos ter vivido. Nelas, há mais fantasia do que realidade. Ai, então, o tempo é cúmplice, nos ajuda na criação dos nossos próprios mitos.
E haverá sempre, a última palavra, o último sorriso, as últimas passadas, tudo embalado pela saudade que nos ajuda a viver de novo.
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