segunda-feira, 28 de março de 2011
AS DUAS FACES DO MEDO
Ronaldo Coelho Teixeira
http://ronaldo.teixeira.zip.net/
ronteixeira@bol.com.br
Medo: cada um tem o seu. Todos temos, uns mais, outros menos, algum tipo de medo. São as chamadas fobias. Elas podem ser de altura, de lugares fechados ou escuros, de algum tipo de bicho e por aí vai. Mas, quanto ao medo mesmo, aquele que assombra de fato. Quando crianças, o nosso variava entre o de mitos e lendas existentes por esse Brasil afora – como bicho-papão, boitatá, curupira, saci-pererê, boiúna, entre outros – e principalmente o velho e terrível medo de alma penada.
Ah! Tempo bom quando o nosso medo era apenas de seres etéreos e invisíveis e que existiam apenas na nossa imaginação. Quem não se lembra daquelas noites de contação de histórias assombradas, em que, mesmo morrendo de medo e arrepiados, ficávamos ali naquela rodinha até o final. E, quando íamos dormir, cobríamo-nos da cabeça aos pés, mesmo que o suor escorresse pelo corpo inteiro, devido ao calor. E o sono? Este, às vezes, demorava chegar por causa de tanto terror.
E não vamos citar aquele tipo de medo momentâneo ou por conveniência, como, por exemplo, o dos pais, quando fazíamos alguma traquinagem em suas ausências e o saldo era amargar aqueles momentos angustiados de apreensão enquanto eles não chegavam para ver o que ia sobrar para nós. Ou o medo do patrão, quando estamos com alguma pendência de serviço ou até mesmo numa situação duvidosa quanto ao nosso desempenho na função.
Agora, o nosso medo mudou de figura. Crescemos, tornamo-nos adultos cheios de compromissos e tarefas inacabáveis, e a segurança – nossa e dos nossos mais queridos – é que virou (pasmem!) refém do medo. E tome desconfiança exagerada de tudo e de todos, manuseio de incontáveis chaves, seguranças particulares, carros blindados e outras parafernálias para conseguir um mínimo de segurança.
Nesses tempos anormais e estranhos, vivemos trancados a sete chaves. É a chave do portão, da casa, do quarto, do carro, do escritório, da maleta e talvez até dos sonhos. Pois, o causador desse tipo de medo, diferentemente daqueles dos tempos de infância, é real e de carne e osso. Sobra clima para sonhar nesse cenário insano no qual o homem é o vilão do próprio homem?
Ironia das ironias: antigamente os bandidos quase não existiam ou ficavam presos e a gente de bem podia gozar a vida. Hoje, é o contrário: nós estamos presos e eles estão soltos. Vai entender esta louca vida! De resto, sobra esta trágica e triste constatação: quando crianças, temos medo de gente morta e, quando adultos, temos medo de gente viva.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos
Imagem enviada pelo autor.
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