domingo, 13 de março de 2011
APENAS MUDA O TEMPO
Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/
É assim todos os anos. Há quase dez que nesta mesma data nesta mesma hora repito, um ritual, os mesmos passos, os mesmos pensamentos, os mesmos gestos. Chego antes do sol, para ver o dia amadurecer. Sento-me à margem da estrada e, logo aos primeiros clarões, a alma começa a doer, e de dor o dia se veste com as mesmas cores da amargura que me acompanha até hoje.
Meu Deus, os dias são diferentes, as dores não. E, foi num dia assim, parecido com este que ele se foi sem olhar para trás. Todos os anos, na mesma data, acordo para lembrar e sofrer com a mesma intensidade que sofri no dia em que ele fugiu para a escuridão da saudade.
A gente pensa que o tempo dilui dores e mágoas. Engano. Ele as alimenta maldosamente.
Naquela manhã conversamos sobre a vida, morte, destino. Por que sofremos, não soubemos responder. Quando nos despedimos, levávamos ainda muitas perguntas sem respostas. Lembro, como se fosse agora, vi quando sumiu na estrada, as mãos acenando um adeus que jamais imaginei se tornaria eterno. Um adeus que não foi dito na hora certa, na hora em que eu poderia recolher um último gesto que me consolasse do abandono e da solidão.
E tudo aconteceu assim, tão de repente num começo de uma noite que não esperou o dia amanhecer.
Obs: Texto retirado do Livro da autora – A Morte Cega
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