Zeca Paes Guedes
ozeca33@yahoo.com.br
Estava lembrando a última vez em que estive no Sambódromo do Rio para assistir ao desfile das Escolas de Samba, uma experiência inesquecível! Desde a chegada já sentimos o clima de festa e de alegria que pairava no ar e podia ser vislumbrado em todos os rostos das pessoas que se dirigiam aos camarotes ou às arquibancadas. Eu fui para uma das arquibancadas. Não recordo número, setor, mas estávamos bem localizados, com uma excelente visão de todo o percurso que as escolas fariam durante os desfiles.
Lembro que bares e banheiros eram dificílimos de conseguir; talvez por esse motivo tanta gente chegasse com caixas de isopor abarrotadas de cervejas, refrigerantes e lanches para varar a madrugada. Mas os vendedores ambulantes também nos abasteceram adequadamente, com preços não tão altos quanto poderíamos imaginar. Assim, o problema maior foi mesmo o uso dos banheiros. Não sei dizer como as outras pessoas se viraram, mas eu consegui me agüentar até o amanhecer, quando fiz o que a esmagadora maioria estava fazendo: desapertei-me na rua mesmo. Isso foi antes da lei atual, que, acertadamente, pode até dar cadeia para os que agem assim... Mea culpa!
Voltando ao clima de alegria e de festa, logo nosso grupo estava integrado às outras pessoas mais próximas, como se fossemos um único e imenso grupo de amigos. Brincávamos, riamos e conversávamos como se nos conhecêssemos de longa data. No momento em que o espetáculo ia começar, nossos olhares e atenções convergiram para o início da pista, na expectativa do que nos aguardava.
Quando apontou a comissão de frente, todos, sem exceção, começaram a cantar o samba enredo da escola. À medida que avançava, iam aparecendo os carros alegóricos, com fantasias luxuosas e mulheres maravilhosas, onde seriam apresentados quadros do enredo daquela escola. Entre os carros alegóricos se apresentavam as alas, com seus adereços e fantasias. A mais esperada delas, a Ala das Baianas, composta apenas de mulheres, normalmente com mais idade, vestindo fantasias especialmente criadas para que, com sua evolução e rodopios encantassem a platéia.
No chão, separando alas, passistas esfuziantes e duplas com mestre sala e porta bandeira em suas evoluções, representando a própria escola. E entre carros alegóricos ostentando luxo e riqueza em fantasias mirabolantes, passistas, alas, porta bandeira e mestre sala, a escola ia evoluindo ao som da bateria que, por si só era um espetáculo a parte, com sua madrinha, geralmente uma mulher esplendorosa, cheia de ginga e samba no pé e seus componentes quase em formação militar. Em um ponto do percurso a bateria precisou fazer o famoso recuo, para que o restante da escola passasse. O povo explodiu em entusiasmo. A maioria das baterias das escolas atingiu um grau de competência tão elevado que, geralmente, a disputa entre elas acaba sendo resolvida por mínimas diferenças de pontuação.
Entre uma escola e outra, o clima de festa e alegria na arquibancada permanecia, com novos ‘velhíssimos amigos’ e sorrisos por toda parte. Até alguns namoros podem surgir no meio de tanta euforia! Um dos rapazes do nosso grupo ficou com uma garota que estava com algumas amigas, voltaram a se encontrar depois e hoje são namorados.
Quando terminou o desfile, após a passagem triunfal da última escola, as pessoas começaram a dirigir-se para a saída. Algumas trocavam telefones, outras apenas se despediam terminando ali aquela amizade meteórica. Lá fora já ninguém mais se conhecia. Meu grupo e eu seguimos nosso caminho, meu coração ainda embalado pela alegria daquela noite de carnaval. E, à medida que nos afastávamos do Sambódromo, íamos deixando para trás as sobras dessa festa que sempre termina quando a terça-feira se transforma em quarta-feira de cinzas.
Um excelente carnaval a todos!
Obs: Imagem enviada pelo autor.