terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
SEGUNDA LIÇÃO
Maria Inez do Espírito Santo
www.mariainezdoespiritosanto.com
Minha terra, meu sítio, meu sofrimento, minha alegria, meu aprendizado...
Relendo o que tenho escrito, lembro-me imediatamente de três bons filmes a que assisti nos últimos tempos: “Cinco Vezes Favela”, “Tio Boonmee, que pode recordar vidas passadas ” e “Biutiful”.
O que têm esses filmes em comum com o que venho dizendo? A noção da complexidade das noções de limite e de ilimitado.
Na verdade, foi “O Paciente Inglês” o filme que primeiro me trouxe a consciência de que essa é uma questão tão importante. E importante, para mim, de revê-la, para superar a ilusão de controle do tempo, dos afetos, dos espaços.
Nas histórias de “Cinco Vezes Favela” impressionei-me em como toda demarcação territorial, mesmo nas situações de extrema próximidade espacial e afetiva , influencia a formação cultural, a construção dos valores e a possibilidade das relações humanas se darem naturais e fecundas, sem lados opostos e estranhamentos.
“Tio Boonmee” e “Biutiful”, cada um a seu modo, ampliam essa temática para o não limite entre a vida e a morte. No primeiro, a aceitação e a integração são um caminho apontado. Já em “Biutiful” a não aceitação da impotência face ao imponderável descamba em arrogância e onipotência, sentimentos que embaçam cada vez mais a visão do que é essencial, conduzindo facilmente à desmedida e ao sofrimento irremediável, ainda quando os sentimentos parecem nobres. Cada um deles vale um texto especial (que tomara eu consiga escrever!), tantos ângulos diferentes exploram, tantas emoções diversas provocam.
Mas lembrando de um diálogo recente sobre o aprisionamento que a linguagem feita de palavras nos impõe, roubando-nos a percepção maior do todo e limitando-nos a sentir a partir da nomeação conceitual (tão falha, sempre!) fico pensando em como posso estar, eu também, aterrando demais meus sentimentos, ao usar tantos pronomes possessivos, escrevendo sobre as experiências que vivo.
Corrijo então: falo da terra em que temporariamente habito, do espaço que parece me acolher, do sofrimento ou da alegria por que me deixo possuir, transitoriamente. Todos aspectos de um aprendizado que atravesso e que também é mais amplo que esta fugaz passagem.
Tudo o que penso poder transferir ao outro ou que espero reter faz parte de uma Unidade, que me impulsiona, generosamente. Dentro e fora de mim, e não minha.
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