Luiz Moura
(lmoura.pe@uol.com.br)
Havia no Caldeirão, uma escola sistemática? Preocupava-se o beato em contratar um professor ou professora, ou, pelo menos, preocupou-se a comunidade em enviar seus filhos para as escolas da vizinhança, com a finalidade de, ao menos, aprender os rudimentos escolares? Ou apenas os conselhos do beato eram suficientes? São questões a que não se pode responder assim com tanta facilidade. Não há saturação de dados capaz de dar uma pista segura, há, ao contrário, dados contraditórios. Num trabalho datilografado de uma equipe de alunos, encontra-se a seguinte afirmação: não havia escolas; o beato achava que seus ensinamentos eram suficientes para que todos vivessem na santa paz, no sítio Caldeirão. Deve-se levar em conta que o beato era analfabeto e que, desse modo, não havia interesse em estabelecer escolas na comunidade. A leitura e os rudimentos da matemática não acrescentavam nada ao caráter místico da comunidade, que devia viver em busca das coisas do céu. Tudo isso não passa de hipótese que mereceria uma investigação cientifica mais apurada. De outro lado, há um dado que afirma a existência de professoras na comunidade e também de escolas, embora de estilo diferente.
Marina (uma professora) chegou acompanhada de uma família de sua cidade que vinha morar no Caldeirão. Mesmo sem a permissão de seus pais, veio em busca de sua missão. Marina, jovem, contava apenas com 21 anos, era loira, de olhos azuis, com beleza de corpo e de espírito. Veio cumprir sua missão: alfabetizar as crianças e os adultos do Caldeirão. A escola não era conforme o modelo convencional: sua sala de aula eram as sombras das árvores. Adultos e crianças levavam consigo a Carta do ABC nos airé ou bairé (uma espécie de sacola a tiracolo em desuso no sertão,hoje) e nas horas de descanso estudavam atentamente.
A experiência cotidiana faz gerar o saber-dizer, o saber-pensar, o saber-partilhar, o saber-fazer, o saber-trabalhar e o saber-criar. Assim deve ser a função da educação: ajudar as pessoas a viver um mundo que se transforma, criar um futuro promissor e inventar possibilidades. A criatividade do beato e da comunidade faz gerar uma forma de superar a seca e suas conseqüências; cria um clima de paraíso terrestre, baseada na experiência de mútua cooperação.