Malu Nogueira
(alines.veras@hotmail.com)
Deixei na roça
A saudade que me roía.
Calei meu desassossego
Na terra molhada do orvalho matinal.
Lavei minha pele com o vento da planície
Verdejante, do milharal embonecado.
Escorreguei meus olhos na descoberta dos fios d’água
Que encharcam a terra barrenta e sujam,
Meus pés e minha cabeça.
Repousei na minha rede
O meu desatino interior,
Que balança e balança,
Mas bêbado, não sai de mim.
A borboleta miúda entra no alpendre,
Pousa no meu braço,
Como me dizer: Levanta,
Vai ver as águas do rio.
O pé de umbuzeiro tem umbu inchado,
Abelhas em derredor, maribondos zangados,
Que provocam barulho ao meu ouvido.
O pé de laranja lima está carregado.
Minha paz de espírito desanuvia-se ao ouvir
O trinado melodioso do sabiá feliz,
Meu sossego tem um pouco de erva cidreira,
Misturado ao doce de barro de sua pele,
Tostado no fogo de lenha das suas prosas,
Somadas e levadas pela estrada barrenta
Onde vou passar no carro de boi carregado
De estórias e afeto.
Estou em outras plagas.
Deixei a roça e a montanha
Enganei-me com invenções artificiais,
Sem beija-flor, nem xiquexique,
O lugar que me recebe,
Não tem cheiro de terra molhada,
Nem tem cigarro de palha,
Nem céu limpo com estrelas brilhantes,
Nem um luar para me clarear.