domingo, 23 de janeiro de 2011
E O JAPÃO?...
D.Edvaldo G. Amaral
(dedvaldo@salesianosrec.org.br)
6 de agosto de 1945. A primeira bomba atômica da triste história das guerras da humanidade explode sobre a cidade japonesa de Hiroshima, matando na hora centenas de milhares de pessoas, criancinhas, velhos e doentes, sem nenhuma distinção; deixando atrás de si um outro número infindável de vítimas, com vários tipos de doenças, conseqüência direta da explosão nuclear. Com outra explosão daquela, no dia 9 sobre Nagasaki, o Japão rendeu-se e teve fim o 2º conflito global, que a humanidade conheceu no século 20 e que começara a 1º de setembro de 1939: mais de milhões de vítimas e seis anos de destruição, lágrimas e sofrimentos incríveis para grande parte da humanidade.
Saindo assim como vencido da II Guerra Mundial, com suas melhores cidades, inclusive sua linda capital, Tóquio, arrasadas pelos bombardeios americanos, o Japão se reconstruiu rapidamente dos destroços da Guerra. Com o elevado preparo intelectual de seu povo, (hoje 95% de alfabetizados) com sua tenacidade no trabalho, com seu espírito de ordem e precisão em tudo, tornou-se rapidamente a terceira potência econômica do planeta, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Alemanha, ambos favorecidos pela posição geo-política, a extensão de suas terras e a vizinhança do mercado consumidor.
O Japão não recebeu nada disso da natureza. Comprimidos em centenas de ilhas a principal delas, Honshu, onde está Tóquio e a segunda, Hokkaido, um pouco mais a nordeste – vivem e trabalham (e trabalham muito) seus 125 milhões e 100 mil habitantes, numa superfície de apenas 377.800 quilômetros quadrados, com inúmeras ilhas rochosas e inabitáveis. Pensem que para seus 170 milhões de habitantes, o nosso Brasil dispõe de 22,69 vezes o território japonês, isto é, 8.571.970 km de terras, todas elas habitáveis, sem vulcões, terremotos e tufões, comuns nesta Ásia, de tantos acidentes geográficos.
A milenar cultura japonesa hoje, sobretudo após a 2ª Guerra mundial, com a maciça presença americana, está toda ocidentalizada, ao menos no traje e na tecnologia, que começou com os famosos radinhos de pilha, do fim dos anos quarenta, e hoje domina o comércio de computadores e outros produtos sofisticados. Mas ainda há coisas bem tradicionais. Por exemplo: quando se entra numa casa, tiram-se os sapatos e se recebem chinelos, que também serão deixados, quando se entra num ambiente revestido de tatame. Indo ao toalete, encontra-se outro tipo de chinelos, diferentes dos usados no interior da casa. Ao entrar numa sala, pede-se desculpas, dizendo odyama-chimas, “estou incomodando”...Ao visitar uma família, é possível que você seja convidado a tomar um banho de relaxamento em banheiras especiais, diferentes do banheiro comum, onde se usa sabão e se enxágua, antes de passar para a banheira, onde não se pode sabonete, mas é apenas um banho de relaxamento. A sopa (muito gostosa, aliás) é tomada levando a tijela diretamente à boca. O mesmo se faz com o arroz – comida típica, que nunca falta empurrando apenas com os hashis, tradicionais pauzinhos japoneses. O macarrão, sugado ruidosamente, não é problema na etiqueta japonesa.
Como aqui começa a linha internacional da divisão do dia, quando o japonês começa a trabalhar às 8 horas da manhã de segunda-feira, o brasileiro está se aprontando às 8 horas da noite para os divertimentos de domingo...
Povo ordeiro, disciplinado, de tradição rígida, tem o trânsito organizado com os carros dirigidos pela direita, como na Inglaterra, Índia e muitos países asiáticos.
Espero ajudar na assistência pastoral dos 260.00 brasileiros, que aqui se encontram e na paróquia do salesiano, Pe. Higa, com 35.000 católicos, espalhados em quatro províncias. Os católicos significam apenas 0.4% da população japonesa e a ação missionária aqui ainda é difícil, pelas profundas diferenças culturais da Ásia em relação à Europa e à América do Sul.
Yokohama (Japão), 4/06/2003.
(*) É arcebispo emérito de Maceió.
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