segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A CIDADE E NOSSA PELE

(Uma homenagem a São Paulo por seus 457 anos)
Aldo CB


Penso na luz da tarde a cintilar em teus olhos como parte de um por-do-sol de 1.891 em plena inauguração da Avenida Paulista. Sinto saudade das manhãs em que atravessávamos o morro do Chá, por volta de 1.879. Recordo também com alegria de nossos primeiros passeios pela Rua Direita, ainda em 1.868, e ficávamos a olhar as lojas e os tecidos, a contemplar os sobrados, a conversar com aqueles senhores e senhoras elegantemente vestidos. Depois, caminhávamos até o Largo da Sé para esperar o anoitecer e apreciarmos o acender das lanternas das praças.
O dia despertou a nostalgia e ficamos a trocar histórias de nossas andanças por esta cidade a crescer, a pulsar vida, a estender suas mãos entre nossas mãos. É outro tempo dentro do mesmo tempo, é outra cidade concebida no seio da mesma cidade.
Uma luz atravessa a tarde e se faz diferente em cada rua, em cada saudade, em cada recordação, mas traz os anos e seus personagens, os chapéus do tempo, as lindas roupas das mulheres, as janelas e portas das casas, a poeira dos anos em nossas peles. E, assim, cintila em nós, desenha sua nostalgia em nossos corpos nus.
Muitas dessas memórias ensaiam fugas e toldam a razão. Outras misturam épocas, inventam dias, produzem fatos, resgatam olhares na busca árdua do permanecer.
Tudo é movimento. É a vida a contar os sonhos de infância de uma cidade adulta e tão criança em nós.
Entrelacemo-nos.