PARTE V – CONCLUSÃO
Emanuela Mélo de Souza
emasouza@hotmail.com
Estamos conscientes das limitações de nossa reflexão na busca de estabelecer um diálogo entre Teologia e Literatura. Trata-se de um estudo incipiente, simples. Apesar de se tratar de um trabalho elementar, podemos intuir que é possível relacionar Literatura com Teologia. A Literatura pode interessar à Teologia e vice-versa.
Nas três obras que analisamos, sem o rigor da crítica literária e sem a penetração teológica requerida, os três autores contemplados tematizam, cada um conforme seu estilo, Deus, o ser humano e suas relações religiosas.
Fizemos uma leitura teológica da composição de Luiz Carlos da Vila, que não tendo absolutamente a pretensão de fazer teologia, fala do sonho do Mestre, que é a realização do Reino aqui e agora, neste “dia de graça”.
Percebemos que a obra de Adélia Prado é portadora de uma reflexão teológica, pois, com certeza, já em seus primeiros contatos com o Evangelho, na adolescência, não era um mero deslumbramento estético que a invadia, mas uma vocação mística. Em seus escritos nos quais sempre está presente o cotidiano, a autora nos comunica, por meio da beleza das palavras, uma energia espiritual, uma sede de infinito e de permanência. E o Ser que assegura a permanência das coisas ela chama Deus.
O hino Ó Luz gozosa é um louvor ao Verbo de Deus, Jesus Cristo. Neste hino vespertino, o autor anônimo decanta a Luz gozosa, Jesus Cristo, o Filho de Deus. A Teologia contida no hino é explícita e vem revestida dos recursos literários, da beleza da forma, da estética. Identificamos este hino litúrgico como uma valiosa obra teológica e literária da Lírica Grega dos primórdios do cristianismo, que atravessou os séculos e permanece atual pela riqueza de conteúdo e forma.
A Literatura revela e desvela o Transcendente. Na busca da estética, o Sagrado se manifesta. A Literatura possui, como dizíamos no início, “poder teológico”: só a arte e o texto literário têm a capacidade de levar o ser humano o mais fundo possível em seu anelo indizível de plenitude, de respostas às suas indagações, justamente no mais íntimo de si mesmo. A Literatura se caracteriza pela beleza, que a faz harmoniosa, proporcional, ordenada. O desejo de Deus, seja consciente ou não, está inscrito no coração humano. O homem e a mulher não cessam de buscar a Deus, por diferentes caminhos, de diversos modos, inclusive, às vezes, de maneira equivocada. Esta sede de Deus, muitas vezes inconsciente, é também a sede do Transcendente, da Verdade, do Bem e do Belo. Temos saudade de nossa beleza primeira, puro reflexo da beleza de Deus. A Literatura, o passeio por ela pode ajudar o ser humano a vislumbrar a Beleza Suprema, o Sagrado, Deus. Portanto, é pertinente falar-se da Literatura na elaboração da reflexão teológica sobre Deus, é pertinente estabelecerem-se relações entre Literatura e Teologia. E é no terreno antropológico que está o maior interesse da teologia pela Literatura.
BIBLIOGRAFIA
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SCHÖKEL, Luis Alonso. La parole inspirée. L’ecriture à la lumière du langage e de la littérature; Col. Lectio Divina 64; Cerf: Paris, 1971.
Obs: Imagem enviada pela autora.
Abraço – Escultura de Ceschiatti (Museu de Arte da Pampulha-BH
Foto de Claudio Costa com solicitação de autorização concedida.