Jacinta Dantas
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Das mãos de um amigo recebi uma plantinha, com mais ou menos 10 centímetros. Veio de onde? Não sei. O que sei é que foi meu presente de aniversário naquele ano. Plantamos, eu e minha mãe, aquela pequenina no nosso, também, pequeno quintal.
O aniversário passou, a primavera acabou, e tudo seguia seu curso. Eu na minha rotina... trabalho, trabalho, trabalho, e mais trabalho. E a plantinha? Estava muito bem aos cuidados de minha mãe.
Algum tempo mais tarde, creio que uns 5 anos, com o desejo de mudar de rumo, dei uma parada geral na minha vida. Olhando para mim, passei a ter tempo para olhar o que estava a minha volta. E nesse olhar, passei a cuidar da plantinha que, então, se tornara uma pequena e linda árvore.
Acompanhando seu desenvolvimento, comecei a sentir que ela sofria. O lugar onde estava não lhe era agradável. Pouco espaço, pouco sol, pouco... tudo era pouco. Mas era a minha planta preferida.
E nas manhãs lindas de primavera, com um sorriso – que era só pra mim – ela retribuía o meu “bom dia rainha”. Nesse encantamento primaveril fui percebendo seus sinais de descontentamento. Soberana, esbanjando simpatia e sem perder a elegância, ela esperou o momento certo e, confiando na intimidade que nos unia, disse-me que precisava mudar. E agora, como ficar sem a minha preferida? Mesmo sofrendo, entendi que assim como eu, que por me sentir sufocada, decidi mudar de ares, também ela precisava de outro lugar onde pudesse se desenvolver plenamente.
No coração, senti o quanto estava apaixonada por aquele ser vivo-verde-encanto em terra, e percebi que o momento, por mais que doesse, pedia o desapego. Na despedida ela chorou, seus galhos murcharam. Eu fiquei firme. Meu amor, que já era grande, mostrava-me que ela precisava passar pelo desconforto da mudança para continuar vivendo bem.
Sua viagem foi tranqüila, dois homens a transportaram com o respeito e o carinho dignos para sua nobreza. Mesmo assim, sei que ela sofrera. Não quis acompanhá-la, não queria que ela percebesse que eu também sofria. Então, fiquei olhando sua partida na reta da vida até onde meus olhos alcançaram.
Tempos depois fui visitá-la em seu novo endereço. Lugar amplo, bonito, cheio de harmonia e luz. Percebi que a mudança deixou-lhe uma pequena depressão em seu tronco. Mas vi e senti que água, espaço, sol e carinho estavam lhe fazendo muito bem.
Quem a recebeu, um amigo querido, cobria-lhe de mimos, valorizando cada progresso daquela árvore que lhe fora dada de presente por mim. Seus olhos brilhavam e em suas palavras, muitos elogios para a rainha.
- Ela está crescendo, está linda...
- Já cresceu tanto que ultrapassou a altura do sobrado...
E a rainha, naquele espaço, majestosamente seguindo a vida nos dias de sol, de chuva e de vento, enfrenta com altivez, as enchentes que afetam as pessoas.
E as enchentes? Como a água do rio que corre pro mar, elas passam. E como tudo passa, chegou a vez de o meu amigo ir embora. E agora? Endoideci. Como ficará a rainha? Desesperados sentimentos, tumultuados pensamentos: As pessoas, também, passam por nossas vidas.
A árvore e eu, em nossos lugares ficamos. Faceira e forte ela toma conta do seu lugar. Já não há mais nenhum resquício do sofrimento da partida. Generosa e agradecida, abraça tudo o que há de bom na primavera e se prepara para se esparramar de amor, em agradáveis balanços e sombras – quando o verão chegar -
Obs: Imagem enviada pela autora ( foto mogno: de viajante do fotoblog uol)