terça-feira, 7 de dezembro de 2010

NOS 69 ANOS DE SACERDÓCIO DO Pe. SADOC



Sebastião Heber
shvc50@gmail.com


Pe. Sadoc sempre preferiu a data de ordenação sacerdotal como comemoração, à data de nascimento. Diz ele que não escolheu o nascimento mas a ordenação, sim, escolheu como momento de entrega e de serviço aos irmãos e ao próximo.

Por isso é que essa data sempre foi tão festejada pelos amigos. Cada ano o amigo Claudelino Miranda sempre organizou, além da missa na Vitória, um grande almoço para amigos especialmente convidados a fim de prestigiarem o ilustre aniversariante.

Este ano está sendo diferente, por conta da cirurgia a que o Pe. Sadoc teve que se submeter. Mas, graças a Deus, já está bem melhor e até já se fala na sua volta à casa mesmo que tenha que retornar eventualmente para exercícios de fisioterapia.

De fato, a data é magna, pois ele é o decano da Arquidiocese. Grande parte do clero ainda não tem 60 anos e ele, só de sacerdócio, já completa 69 anos e em plena lucidez.

Pe. Sadoc nasceu em Santo Amaro da Purificação no dia 20 de março de 1916 e se ordenou como padre no dia 30 de novembro de 1941, sendo a celebração na Sé com o 1º Cardeal D. Augusto. Seus pais: José Porcino e Esmeralda da Natividade. Ele é o segundo de 8 filhos: Mª das Dores (falecida), Gaspar Sadoc, Judite (falecida), Judite, Baltazar, Melchior, Domingas (falecida) e Suzana.

Iniciou seus estudos na Escola que ficava na Rua dos Humildes com a profª Mª do Carmo Guimarães. Depois passou para o Ginásio de Santo Amaro, sendo da turma inaugural cujo fundador foi o Sr. Videu Costa. Ele gostava muito da farda escolar, que era do tipo de uma roupa de soldado e tinha até perneira de couro.

Antes de entrar para o seminário, ajudava o pai no 1º bar da cidade – era o Centro Recreativo. Lá também havia mesa de bilhar. O menino Sadoc era encarregado do controle dos bilhares, isto é, controlava o tempo e o dinheiro que entrava. Dessa forma, tornou-se um exímio jogador de bilhar, mas precisava subir num banco, pois como ainda era muito criança, não tinha altura suficiente.

Mas muito cedo entrou para o seminário Menor de Santa Tereza em Salvador. O apoio para isso veio do capelão dos Humildes, Mons. José de Andrade Lima. Em 15 de fevereiro de 1922 entrou para o Seminário. Seu pai veio trazê-lo e prometeu que no dia seguinte viria visitá-lo. Mas demorou muito para voltar, recorda-se ele. Seu primeiro diretor foi o Pe. Manuel dos Santos, considerado por ele e outros colegas como “o santo das nossas vidas. Foi ele quem segurou as nossas vocações”. Do seminário ele conserva boas e tristes memórias. Por exemplo, o Pe. Luiz Negreiro tinha uma rigidez excessiva e inexplicável. Ele despovoava o seminário. Uma centena de seminaristas ficava reduzida a uns 30. Tudo era motivo para ser colocado para fora do seminário. Até rir em hora inconveniente. E os castigos não eram dos mais pedagógicos. “Às vezes tínhamos que copiar uma frase mil vezes: devo me comportar bem no refeitório, no dormitório“ – e isso na hora do recreio ...

No seminário fez amizades que duraram toda a vida. O Pe. Francisco Silvino dos Reis, que era um deles. Era de Itaparica e exerceu a função na Paróquia de S. Pedro, durante muito tempo até a sua morte. Também o Pe. Francisco Pinheiro Lima, amizade que continua até hoje e que depois se casou. Dele diz o Pe Sadoc “foi a maior cabeça que o clero baiano já teve.

Pe Sadoc teve sua 1ª Missa Solene na sua cidade natal, Santo Amaro. Seus familiares ainda se recordam da quantidade de seminaristas e amigos que lá estiveram.

O Jornal da Cidade, chamado de Oficial, deu destaque especial à sua “Missa Nova”: A Cidade recebeu sob intenso entusiasmo popular no dia 7 de dezembro, o Pe. Gaspar Sadoc da Natividade, recém-ordenado pelo Seminário Arquiepiscopal da Bahia, onde fez um curso brilhantíssimo, conquistando bem assim a estima dos mestres e condiscípulos.

As festas de recepção ao novo padre que é filho dileto desta terra, foram organizadas pelas classes operárias locais e com o concurso da sociedade santamarense e do povo em geral. Ao desembarque do Rev. Pe. Sadoc, que aqui aportou acompanhado de brilhante comitiva de representantes do clero baiano, compareceram autoridades, representações sindicais, a Filarmônica Lira dos Artistas, e o povo numa consagradora expressão de sinceridade. Recebendo-o em nome da Comissão Organizadora das festas, falou o Sr. Mizael Braz Pereira , redator da ‘Mocidade’. O Pe. Gaspar Sadoc celebrou sua missa nova no dia 8 do mês em curso, estando a matriz da Purificação repleta de fiéis”.


Sebastião Heber. Professor adjunto de antropologia da Uneb, da Cairu, da faculdade 2 de Julho. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.