terça-feira, 26 de outubro de 2010

POEMA PSICANALÍTICO



João Batista Pinto
(melopintoneto@uol.com.br)


Elisabeth era impura,
Mas não tinha pecados.
Era simples e substantiva,
Pecados são sempre adverbiais.

Quando lhe nasceram os dentes,
Incisivos e de elegante postura,
Elisabeth, fingindo indolência,
Engoliu os mamilos de sua mãe.

Sem arrependimento,
Ficou a se perguntar,
Entre fria e distraída,
Por que não morrera de véspera?

Em idade ainda imprecisa,
Sentiu a falta de seu pênis
E procurou-o em gavetas e armários
Quase em estado de pânico.

Quando um dia se fez moça
Ficou em cores sua urina
Prenunciando acontecimentos,
Terremotos e catástrofes.

Quando se fez mulher,
Soprou no ouvido de Eva
Qualquer coisa de obscuro
Antes que a serpente se movesse

Ao bordar com suavidade
Um simples ramo de flores
Transformou-se em bailarina
E dançou como um cisne no seu lago.

Certo dia, ao acordar
Em átomos se explodiu
E sob o clarão do mundo,
Nasceram mil cogumelos.