terça-feira, 26 de outubro de 2010

AUSÊNCIA DE PONTEIROS



Ronaldo Coelho Teixeira
http://ronaldo.teixeira.zip.net/
ronteixeira@bol.com.br


Felicidade. Todos queremos e buscamos. Ainda mais nesses tempos “bicudos e difíceis”, nos quais a correria e a enxurrada de coisas supérfluas tentam, e geralmente conseguem afastar-nos cada vez mais dela.

Felicidade. Sonho de consumo número um no Século XXI. É verdade que, na maioria das vezes, atropelamos a nós mesmos e aos que nos cercam, na louca tentativa de encontrá-la.

Mas a busca por ela não é tão difícil. Nós é que complicamos demais esse trajeto utilizando-nos do auto-engano, da mentira, da perfídia, do falso e do dissimulado, traições e trapaças. E não é por mal a opção por esses – vamos colocar assim – desvios para se tentar chegar mais rápido ao paraíso.

Também não confundamos alegria com felicidade. Pois, a primeira é algo momentâneo e passageiro, ou seja, a sentimos quando somos promovidos no trabalho, ganhamos um presente ou conseguimos um objeto que tanto desejávamos, entre outros exemplos. Já a segunda é o resultado de um caminho trilhado na busca constante do “eu”. Alegria é estar. Felicidade é ser.

Por outro lado, muitos chegam a um ponto, no qual passam a sentir medo da felicidade. Resultado de tantas frustrações e decepções ao longo do viver. São aqueles que se agarram à única e confortável posição: a de se construir muros ao invés de pontes.

Receitas? Não, não existem regras para se alcançá-la. Mas Gibran dá uma boa pista: “Sim, o nirvana existe: está em conduzir teu rebanho a um verde pasto, e em por teu filhinho na cama, e em escrever a última linha de teu poema”. E Quintana, no poema “Indivisíveis”, que trata da felicidade através de suas lembranças enquanto ancião, diz, ao final do texto, que o exemplo de duas crianças de sexos diferentes, alegres e falantes, seria o que os adultos passariam a vida inteira procurando com esse nome.

E assim passamos a vida toda para descobrir que felicidade é todo o tempo que não medimos. Felicidade é a ausência de ponteiros.


Obs: Imagem do autor.
Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos.