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Na cama, o vazio. A ausência presente em tudo, suga-me as lembranças, transforma-as em saudade.
Junto à mesa a cadeira de balanço. Na palhinha amarelada a marca do corpo. No chão as chinelas. Ali ele sentara na última noite, na da última palavra do derradeiro olhar. A última em que estivemos juntos. Em seguida veio o depois. Um depois daquele momento, um depois que transformou toda a minha vida. O momento foi rápido, não consigo lembrá-lo. Foge-me quando tento. Inútil querer porque as lágrimas solidárias apagam a teimosia das lembranças. Queria mesmo esquecer o depois, longo interminável, presente.
As pessoas me fazem perguntas, dão-me conselhos.
- Por que não vai morar com seu filho?
Quem morreu, foi ele ou foi a casa? Por que tenho que ir para algum lugar? Eu não quero ir a lugar nenhum. De repente tornei-me dona de um espaço e não sei o que fazer com ele.
Não poderei, sem mais nem menos, me levar para a casa dos outros, me instalar num mundo do qual eu nada sei, num mundo que se formou e cresceu sem que eu estivesse lá. Seria um arremate de vida num quartinho nos fundos da casa e alguém para me dizer a senhora é feliz, ainda tem parentes.
A sombra continuaria andando pela casa.
Tenho medo dos meus medos nem mesma eu os conheço. São segredos deles mesmos.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Memórias do Vento –