quarta-feira, 8 de setembro de 2010

TEXTO DE DJANIRA SILVA



djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


          Na cama, o vazio. A ausência presente em tudo, suga-me as lembranças, transforma-as em saudade.
          Junto à mesa a cadeira de balanço. Na palhinha amarelada a marca do corpo. No chão as chinelas. Ali ele sentara na última noite, na da última palavra do derradeiro olhar. A última em que estivemos juntos. Em seguida veio o depois. Um depois daquele momento, um depois que transformou toda a minha vida. O momento foi rápido, não consigo lembrá-lo. Foge-me quando tento. Inútil querer porque as lágrimas solidárias apagam a teimosia das lembranças. Queria mesmo esquecer o depois, longo interminável, presente.
          As pessoas me fazem perguntas, dão-me conselhos.
          - Por que não vai morar com seu filho?
          Quem morreu, foi ele ou foi a casa? Por que tenho que ir para algum lugar? Eu não quero ir a lugar nenhum. De repente tornei-me dona de um espaço e não sei o que fazer com ele.
          Não poderei, sem mais nem menos, me levar para a casa dos outros, me instalar num mundo do qual eu nada sei, num mundo que se formou e cresceu sem que eu estivesse lá. Seria um arremate de vida num quartinho nos fundos da casa e alguém para me dizer a senhora é feliz, ainda tem parentes.
          A sombra continuaria andando pela casa.
          Tenho medo dos meus medos nem mesma eu os conheço. São segredos deles mesmos.


Obs: Texto retirado do livro da autora – Memórias do Vento –