segunda-feira, 13 de setembro de 2010

COMO O JUDAÍSMO CONSIDERA JESUS CRISTO



Sebastião Heber
shvc@oi.com.br


O judaísmo é uma das três religiões monoteístas e chamadas de “abraâmicas por ser centrada na fé no Deus Único, que teria se revelado ao primeiro dos patriarcas bíblicos que foi Abraão e que teve o seu chamado em torno do ano 1800 a.C. O judaísmo, no nosso tempo, tem deixado sua marca no Estado de Israel, que foi fundado em 1948 e contém uma população que beira os 6 milhões de um total de quase 15 milhões de judeus espalhados pelo mundo. Mas a metade deles vive nos Estados Unidos.

O judaísmo se caracteriza por ser uma religião intimamente aliada à história.As narrativas da Bíblia se baseiam numa crença bem definida de que Deus fez uma aliança especial, uma espécie de pacto com o seu povo escolhido, o povo hebreu.

Os judeus se caracterizam por ser um povo culto e marcado por uma perseguição que tem marcado a sua história. Na Espanha dos séculos XII e XIII eles alcançaram um apogeu. Nessa época um dos maiores filósofos foi o rabino Moisés Bem Maimon (Maimôdes)., que escreveu várias obras e resumiu os ensinamentos judaicos nos Treze Ensinamentos da Fé Judaica.

Contudo, desde a Baixa Idade Média até hoje eles vêm sendo perseguidos. Em diversos períodos a sociedade cristã os acusou pelo assassinato de Jesus e considerou o destino desse povo como uma punição – não é sem razão que o verbo “judiar” foi largamente utilizado como sinônimo de fazer o mal a alguém.A França e a Inglaterra os deportaram nos séculos XII e XIV. A Noruega tinha uma lei aprovada já em 1687, renovada na Constituição de 1814 , que negava o acesso aos judeus àquele país sem um permissão especial.

Sem dúvida, a última guerra, na Alemanha, foi o pior cenário que representou de forma cruel o que os judeus passaram na história. Por tudo isso, eles foram obrigados a adotar nomes facilmente reconhecíveis e a morar em áreas especiais das cidades em que residiam, isto é, a morar em guetos – hoje as “juderias” na Espanha são lugares identificados com o turismo, mas refletem, na sua gênese, essa situação de confinamento.

Uma das características da fé judaica é a expectativa messiânica. Durante milhares de anos eles esperaram um Messias que viesse criar um reino de paz na Terra.Essa esperança surgiu com o reinado de Davi. E desde o exílio babilônico eles alimentaram essa idéia e a crença que viria um Messias da linhagem de Davi. Até hoje eles se encontram nessa perspectiva. Alguns chegam até mesmo a acreditar que a presença do Estado de Israel é já o sinal e o cumprimento dessa expectativa que o povo alimentou de geração a geração.

O auge das celebrações para os judeus é representada pela Páscoa, em hebraico Pessah, que significa “passagem”. Nessa festa é comemorada a saída dos judeus do Egito onde ficaram como escravos durante cerca de 400anos.

Há uma profunda ligação entre cristianismo e judaísmo. E a razão é clara : o primeiro é proveniente do segundo . Há um axioma na Igreja Católica que diz :”A Igreja é filha da Sinagoga”. Jesus foi educado conforme os princípios judaicos, foi anualmente com seus pais a Jerusalém para a festa da Páscoa – quando Ele se perdeu no Templo, foi exatamente por ocasião dessa festa. Há portanto, uma matriz comum entre esses dois grupos religiosos : crença num único Deus, que é onipotente, misericordioso e onisciente; ambos partilham o Antigo Testamento; os Dez Mandamentos são vivenciados igualmente pelos dois grupos.

Mas como Jesus é visto na religião na qual foi criado e educado e que lhe ofereceu as bases do seu próprio discurso? Nos primeiros anos da Igreja ficou claro que a fé dos judeus-cristãos os deixou numa posição antagônica à dos judeus tradicionais.Não foi à toa que Jesus teve sua cabeça pedida pelos representantes da Lei. O Nazareno se dizia Filho de Deus, afirmava que o poder divino se manifestava através de suas obras e prodígios. Dessa forma Ele quebrou preceitos e costumes tradicionais : andava com os vagabundos do seu tempo,prostitutas, cobradores de impostos, quebrou o preceito do sábado e, sobretudo, se insurgiu contra os fariseus, representantes poderosos da religião do seu tempo –“Fazei o que eles dizem mas não o que eles fazem”.

Como o judaísmo poderia respeitar esse judeu marginal como o enviado do Deus Único?

Para os judeus Jesus pode ser visto como filho de Deus mas no sentido mais amplo do termo : todos os seres humanos também o são.

Quem foi Jesus ? É uma pergunta sempre atual e que pode ser respondida com e sem polêmica. Essa questão vem intrigando a cultura ocidental há mais de 2 mil anos.

As respostas são muitas. Mas a resposta maior e mais definidora encontra-se baseada na fé. É a fé na Ressurreição daquele que se proclamou como Filho de Deus que tem alimentado a fé dos cristãos e que pede que haja um efetivo diálogo para ver os pontos que unem as religiões e não apenas aqueles que as dividem.


Sebastião Heber. Professor da Uneb, da Faculdade 2 de Julho. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio,ANIP-Br. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro.