D.Edvaldo G. Amaral (*)
(dedvaldo@salesianosrec.org.br)
Entre os anos 1940-42, no teatrinho do Colégio Salesiano do Recife, encenada pelos aspirantes (seminaristas ginasianos), de cuja “gloriosa” equipe eu fazia parte, e dirigida pelo Pe. Gino Compagnin, nosso diretor dos estudos, foi levada ao palco a peça intitulada “Inaugura-se um cemitério”. Seu autor era o também sacerdote salesiano Nestor Alencar, autor do livro de poesias “Águia ferida”, sua única produção poética levada às livrarias, e muitas peças teatrais educativas, rigorosamente salesianas, com exclusivos intérpretes masculinos. O enredo da peça dos anos 1940 tratava de um prefeito do interior, que prometera aos seus ingênuos eleitores construir um cemitério na cidade e que nunca o conseguira inaugurar por falta de defuntos, habilitados para a função “inauguratória”, como ele dizia, acrescentando que a cidade sofria “grave crise defuntória’... Nem é preciso acrescentar que na peça salesiana não havia nenhuma das “Cajazeiras”...
Isso nos anos ´40. Em 1962, o dramaturgo Dias Gomes montou uma peça de igual enredo. Em 1973, a Rede Globo exibia sua primeira novela em cores no horário das 10 da noite, depois extinto, com o nome de “O Bem Amado”. A novela transformou-se em seriado nos anos ´80 e agora vemos a mesma trama, com ligeiros acréscimos, levada à tela grande, como se diz hoje, no filme de igual nome dirigido pelo competente Guel Arraes, nome de família de grande impacto na memória política de Pernambuco.
Acontece que eu sempre me perguntava e fiz essa indagação nas “Memórias Salesianas de um velho Arcebispo”: “Mas, afinal a Globo copiou no essencial o enredo de nosso Pe. Nestor (que era de 1940 e a peça de Dias Gomes de 1962) ou ambos se basearam em algum autor famoso de outra literatura?”
A verdade é que, como informa agora uma revista de circulação nacional, houve um caso real em uma cidadezinha do interior do estado do Espírito Santo, ocorrido no início do século passado, portanto, a pouca distância do teatrinho do Pe. Nestor. Nele, certamente basearam-se seja a história teatral salesiana “Inaugura-se um cemitério”, como a peça, a novela, o seriado e agora o filme “O Bem Amado”.
Mas, na minha opinião, o pior vem agora, neste ano do filme e das eleições federais e estaduais. Os Odoricos estão aí enganando nosso povo com promessas ilusórias. O trágico é que os atuais Odoricos, “numa confabulância ultrassigilenta”, dizem de botar de lado “os abstratos e partir logo para os concretismos”, isto é, comprar os opositores com o dinheiro público, como já aconteceu com o mensalão, que visava exatamente a fazer calar a oposição diante das propostas governamentais. E agora, as promessas mirabolantes, como luxuoso cemitério público em lugar pobre e com graves problemas sociais, para iludir os incautos eleitores.
Atenção, eleitor consciente: os Odoricos Paraguaçu estão na praça...
(*) É arcebispo emérito de Maceió.