terça-feira, 3 de agosto de 2010

adágio



Dade Amorim
dedaamorimo@gmail.com
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a noite chega bordada de imagens
dentro dos olhos
na autonomia mais tempestuosa
como se da liberdade se esperasse
um destino de réu da inquisição

caminha com as mãos às costas
olhando o chão como quem procura
talvez uma alegria
talvez um bom motivo de viver
como por exemplo seu gosto por comida
ora interdito

pelas janelas da casa voaram mais que cortinas
e há silêncios guardados nos armários
onde antes se guardavam remédios fechados à chave
com o cuidado de quem cultiva vírus num laboratório
enquanto as crianças brincam no quintal

uma cintilação de mar ao longe
pode ser vista entre os cascos de navios
e barcos de regata
o homem do cais puxando suas cordas
bronzeado de dar inveja
fotógrafos procurando os ângulos melhores
bem além do varal onde esqueceram uma saia

há um ventilador parado no canto de um dos quartos
porque fazia frio como agora
as paredes são da cor da sombra
quando falta o sol
e todos os brinquedos nas estantes cantam à capela
um adágio desencontrado
sem esperar um terceiro movimento
no aquário onde um peixe vermelho escureceu


Obs: Imagem enviada pela autora.