terça-feira, 27 de julho de 2010

ALMA PRESA



Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/


          Se estou com vontade de chorar? Claro que estou. Estou sempre, já nasci assim, não sei fazer outra coisa.
          Sinto-me hoje como se eu fosse ontem. Travada, presa, não consigo definir a marca que me separa de mim. A fome adormecida me devora durante o sono e ao amanhecer me evapora nos raios da madrugada. Assim cheguei dando voltas ao redor de mim, do tempo, da vida, temendo os dias, monstros que fazem rolar as cordas do mundo. Hoje me sinto como se eu fosse ontem. As mãos adormecidas prendem segredos para que o tempo não os conheça, nem eu. Melancolia, marca de ferro e fogo que me faz diferente de mim ontem, da que hoje não sou.
          Todas as noites ela aparece e brilha sempre no mesmo lugar.
          Mudo de estação.


Obs: Texto retirado do livro da autora – A Morte Cega