Dannie Oliveira
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A primeira vez que a viu foi naquele segundo dia de aula há18 anos atrás. Ela tinha 05 anos e ele pouco mais que 06. Ficou encantado com a menininha loirinha de cabelos lisos, naquela saia godê azul marinho e blusa branca, parada em frente ao portão. Achou que era um anjo. A mãe não entendeu nada, mas mesmo assim deixou o garoto ir embora correndo pelo jardim.
Aos 08 anos ele fugia da sala para ficar com ela (não bem com ela). Sempre que ela estava no pátio pulando amarelinha ou corda, ele estava sentado num banco observando a brincadeira. Muitas vezes acabou conduzido para a secretaria porque estava matando aula (o recreio era em horários diferentes).
Aos 13 anos quebrou o braço direito ao cair de uma árvore onde tentava resgatar um gatinho. Pouco importava se o bichano não era dela, mas o olhar de compaixão que ela lançou ao ver o animalzinho miando em um galho da mangueira cortou o coração dele. Ele enfrentou o medo de altura e se arriscou pelo tronco úmido. Caiu no exato instante em que pegava o gatinho. Ela pegou o filhote e ele ficou no chão. Nem disse tchau.
Aos 16 anos, sofreu a primeira decepção amorosa. Encontrou-a aos beijos com o valentão da escola. ‘Porque não eu?’- Pensou. Tocou a vida. Estava decidido a esquecê-la, mas por coincidência encontrou uma foto dela no corredor (caiu do caderno de alguém). Pendurou-a no espelho, fez mil rabiscos, reproduções. Endeusou-a. Nessa mesma época beijou uma garota por acaso, só porque parecia com ela.
Aos 18 anos a separação. Final de escola. Baile de formatura. Ela sozinha. Mil e uns garotos e ela no centro. Desiludiu. Passou duas noites sem dormir. Quase foi reprovado na prova final porque cochilou durante a avaliação. Tomou coragem por fim. Desistiu no meio do caminho. Era tímido. Ela acabou indo com outro rapaz a festa. Ele com uma prima de segundo grau.
Aos 19 anos seguiu seu rumo. Ela foi para a faculdade de Letras, ele para a de Tecnologia. Ela viajou para Portugal, ele para os Estados Unidos. Ela morou em Brasília, ele morou em São Paulo. Ela morou junto, ele preferiu curtir a vida. Ele montou uma empresa, ela casou. Ele decidiu mudar os rumos da vida, ela pediu a separação e levou a filha de 2 anos.
Aos 24 anos a encontrou por acaso numa festa com ex-amigos da escola. Ela o cumprimentou. Sorriu. Foi gentil. Trocou telefone. Ficou encantada. Ele estranhou aquilo tudo (ironia do destino?). Ele lembrou as coisas do passado. Da paixão de toda uma vida. Aproveitou a oportunidade para confessar tudo o que sentia. Foram num barzinho no dia seguinte. No cinema no final de semana. Num jantar na terça. Ela lamentou não ter o conhecido antes. Estava apaixonada. Um mês depois estavam de mãos dadas pelas ruas. Ela falou que o amava. Ele vivia um sonho. Ela declarou que ele era a maior conquista da sua vida. A melhor coisa que aconteceu no seu mundo. Casaram-se seis meses depois, no antigo pátio da escola. Estão felizes até hoje.
Obs: Imagens enviadas pela autora.