segunda-feira, 10 de maio de 2010

A URGÊNCIA DA UNIDADE CRISTÃ



Marcelo Barros (*)
(irmarcelobarros@uol.com.br)


No hemisfério sul, comunidades cristãs de várias Igrejas celebram a partir do próximo domingo e até o domingo 23 a Semana de Orações pela Unidade. Neste ano, se comemoram os cem anos da Conferência de Edimburgo que deu origem ao movimento ecumênico. Em 1910, comunidades da Ásia, nas quais pastores e missionários protestantes atuavam, lhes disseram: “Vocês vêm aqui e cada grupo prega o Cristo de um modo. Além de dividirem nossas comunidades, ainda semeiam confusão. Voltem a seus países. Ponham-se de acordo sobre o que anunciam e, então, sim, venham anunciar o evangelho que nós aceitaremos”. Ainda sem a participação da Igreja Católica, pastores de diferentes Igrejas aceitaram se reunir e combinar entre si uma missão comum. Embora antes já existissem iniciativas de diálogo, esta conferência missionária em Edimburgo, há cem anos, foi a origem do atual movimento pela unidade das Igrejas.

Neste ano, o tema escolhido para a Semana da Unidade recorda estes cem anos de missão em comum e é extraído do capítulo 24 do evangelho de Lucas: “Vocês são minhas testemunhas”. Toda a vida de Jesus, suas palavras e ações, revelam que há um projeto divino para o mundo e este projeto é objeto de um julgamento. Toda sociedade e, dentro dela, cada pessoa, são colocadas diante desta proposta divina de um mundo irmanado e organizado a partir de critérios como irmandade, justiça, paz e comunhão com a natureza.

Conforme o evangelho, durante sua vida pública, Jesus deu testemunho do amor de Deus às pessoas e do seu projeto de paz, justiça e transformação do mundo. Jesus fez isso curando pessoas doentes, reconciliando as pessoas com Deus e reintegrando-as à comunidade. Na véspera de ser assassinado, ele reuniu os discípulos e discípulas em uma ceia pascal. Nesta ceia, lhes disse: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. O mundo conhecerá que sois meus discípulos e discípulas, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13, 34- 35). É como se ele dissesse: “Até aqui, eu dei testemunho do Pai através dos sinais de libertação que fiz com as pessoas doentes, pobres e marginalizadas. Agora, vocês devem continuar a fazer estes sinais e dar testemunho do projeto de Deus no mundo. Embora tenha dito que “quem crê em mim fará coisas ainda maiores do que eu” (Jo 14, 12), não posso pedir que façam milagres extraordinários. Então, o sinal que lhes peço é o amor e a unidade”.

A unidade que Jesus deseja para seus discípulos e discípulas não visa apenas criar uma comunidade internamente mais harmoniosa. Ela serve para unir as comunidades diferentes no mesmo tipo de trabalho que ele realizou. A missão da Igreja não é apenas religiosa e interna, mas visa a transformação do mundo e a libertação das pessoas sofredoras. Em 1968, afirmaram os bispos católicos latino-americanos, reunidos em Medellin (Colômbia): “A Igreja cristã deve servir à libertação de todo ser humano e de cada pessoa por inteiro” (Doc 5, 15).

De fato, cada vez mais, em um mundo marcado pela competição e pelos conflitos, as Igrejas cristãs deveriam ser exemplos de uma sociedade nova, igualitária e mais justa, na qual as pessoas pudessem dizer: “humanas a este ponto só mesmo sendo de Deus”, como podiam dizer a respeito de Jesus. Infelizmente, ainda temos esta dívida com o mundo e com Deus.

Em 1969, no Maranhão, um bispo foi participar de um grupo bíblico no interior do estado. Era uma reunião de gente muito simples e quase todos sem muita leitura. Naqueles dias, haviam visto pela televisão a chegada dos primeiros astronautas na lua. A discussão no grupo era se aquilo era verdade mesmo ou se era uma ficção. Algumas pessoas acreditavam que era real e outras diziam que não podia ser. Ninguém poderia pisar na lua. O bispo perguntou a uma senhora que era a rezadeira do grupo: “O que a senhora pensa disso, dona Chiquinha?”. Ela respondeu sem hesitar: “Se esse pessoal foi ou não foi na lua, eu não sei. Mas, por experiência, seu bispo, eu acho que é mais fácil o homem ir à lua, do que se unir às pessoas que são mais próximas”. Pois, é este milagre que Jesus pede e espera de nós.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.