Djanira Silva
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Ouço a porta bater. Paro. Alguém entrou? Não sei. Espero.
Um arrastar de chinelos. Um vai e vem, um entra e sai. Escuto.
Escuto nos sussurros do vento o solfejar das notas de uma canção antiga, canção que impulsionava sua mão nos movimentos da rede, nas madrugadas frias de maio, para embalar o sono de quem não queria dormir. Na noite fria ela cantava. Canta ainda. Minha saudade também sabe cantar.
Estou só. Não me sinto só. Uma casa vazia. Um coração cheio de artimanhas tenta me distrair com suas batidas, preguiçosas, de uma realidade que aos poucos vai incinerando minha verdadeira história.
De repente me dou contas de que invento algumas para enganar o esquecimento.
Quanto mais esqueço mais lembro. Abro portas e me embrenho por estradas que nunca se desfizeram. Caminho. Vejo, ouço, penso. Discordo.
Tenho à minha frente, um calendário mentiroso que muda sempre e nunca diz a mesma coisa no mesmo dia. Ele me diz que hoje é dia das mães.
Dia das mães são todos eles, principalmente depois que elas se vão. É, quando então, passam a existir. A lembrança das que se foram é tão forte quanto a tristeza das que têm a presença negada.
As que cedo se vão, santificam-se e sempre estarão de volta. Partem porém levam dentro dos olhos as imagens dos filhos. Guardam das infâncias irrequietas, a alegria de uma inocência que a sabedoria destroi. Da adolescência as urgências da vida. Da maturidade o desencanto de vê-los envelhecer.
A porta bate novamente. Ouço movimentos no jardim. Escuto o barulho da água escorrendo da mangueira. Pela janela entra o perfume das rosas e dos jasmins. Então, sinto ao meu redor o cheiro do bogari nos seus cabelos.
É chuva, chuva silenciosa. Minha saudade aprendeu a chorar.
Sei que você está aqui. Acaba de andar por toda a casa e sempre estará comigo nas cantigas que cantou, nas histórias inventadas, no olhar de criança que ilumina meu rosto quando volto aos quintais da minha infância.
Peço ao tempo, um minuto de silêncio pelas que ainda não se foram.
Obs: Imagem enviada pela autora.