cairo de assis trindade
Os amigos mortos dormem
num canto da saudade.
Ávidos por liberdade,
não há túmulos que os guarde.
Emergem das sombras.
Nos aguardam sempre
para rápidas visitas
ou para o grande encontro.
Os amigos mortos surgem
às vezes à nossa frente,
pontuais a nosso apelo,
e nunca decepcionam.
Vêm sempre como, quando
e onde nós queremos,
com suas faces de luz minadas,
imaculadas e plenas.
Silenciosos, andam por onde
nem-vento-nem-pensamento.
Não perguntam, não respondem,
sequer nos roubam algum tempo.
Chegam quando os chamamos,
às vezes nos surpreendem.
Jamais pairam além de um
quase-espaço em breve momento.
Quando saem, não deixam
marcas nem levam nada.
Mansos e tênues, voltam
ao destino de estátua e nuvem,
em seus roteiros de mistério
e seus retiros de sombra,
até que alguém, em nós,
os chame para outro encontro.
Enquanto isso, a sós
e sem qualquer alarde,
se escondem, espreitam
e brincam de eternidade.