segunda-feira, 10 de maio de 2010

ENCONTROS SECRETOS

cairo de assis trindade


Os amigos mortos dormem

num canto da saudade.

Ávidos por liberdade,

não há túmulos que os guarde.

Emergem das sombras.

Nos aguardam sempre

para rápidas visitas

ou para o grande encontro.


Os amigos mortos surgem

às vezes à nossa frente,

pontuais a nosso apelo,

e nunca decepcionam.

Vêm sempre como, quando

e onde nós queremos,

com suas faces de luz minadas,

imaculadas e plenas.


Silenciosos, andam por onde

nem-vento-nem-pensamento.

Não perguntam, não respondem,

sequer nos roubam algum tempo.

Chegam quando os chamamos,

às vezes nos surpreendem.

Jamais pairam além de um

quase-espaço em breve momento.


Quando saem, não deixam

marcas nem levam nada.

Mansos e tênues, voltam

ao destino de estátua e nuvem,

em seus roteiros de mistério

e seus retiros de sombra,

até que alguém, em nós,

os chame para outro encontro.


Enquanto isso, a sós

e sem qualquer alarde,

se escondem, espreitam

e brincam de eternidade.