Gerson F. Filho
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Primeiro; eu te amo tu me amas. Depois nos amamos, intensamente. Bem no meio do tempo que corre e solicita atenção com o futuro. Depois; vem o fruto do nosso amor. Resultado esperado devido a tanta intimidade praticada na nossa união. Fato normal porque na carne se realiza o desejo e pela carne se reproduz a realidade. Filhos então. Alegrias, gritos, sorrisos, fraldas remédios, apreensão. Não necessariamente nessa ordem. O amor prossegue, a carne persegue apesar da costumeira interrupção. A liberdade e a privacidade já não são privilégio, mas sim ocasião.
Trabalho, casa trabalho, e mais trabalho, menos casa e muito mais trabalho, porque de teto definitivo se faz um sólido futuro, pensamos. Repensamos economizamos. E, contudo nas figuras do tempo conseguimos consolidar nossa união. O tempo passa, eu me torno mais pragmático e você performática. Já não nos amamos com tanta intensidade. Já não me olhas com tanta saudade, já não te vejo tanto como minha metade. Mas e apesar de tudo ainda desfrutamos harmonia e momentos de tesão.
Descobri! Tornamo-nos irmãos. Bons irmãos na verdade, que às vezes cometem incesto, porque afinal de contas ninguém é perfeito, e a carne ainda clama por atenção. Estamos estabilizados. Filhos criados, contas em dia, saúde sem dar trabalho. Porém a paciência mútua está em frangalhos. Aqueles neurônios que se queimaram, não servem, mais para atalho de uma simples conciliação. Você reclama atenção, eu solicito uma ocasião, aonde tu sejas de novo minha mulher, e não minha mãe.
Eu nessa essa hora já sou ausência, impregnado nos meus pensamentos. Você, circunferenciada por tormentos, tenta encontrar uma solução. Vasculhando hipóteses mortas, entre o aleatório movimento das recordações. Amamo-nos, mas não mais nos amamos, perdidos que estamos entre os escombros dos nossos corações. Amamos, construímos, vencemos e vivemos, para imiscuirmo-nos em desenganos que o cotidiano nos presenteou.
Morte ao cotidiano!
Vida eterna ao amor!