Luiz Moura
(lmoura.pe@uol.com.br)
O Caldeirão foi uma das mais belas experiências comunitárias acontecidas no Nordeste brasileiro onde grande número de refugiados foram acolhidos pelo beato José Lourenço, que lhes ofereceu provisões que estavam guardadas no grande armazém da comunidade. Os escritos sobre o Caldeirão afirmam que, durante a seca de 1932, não ocorreu um só caso de morte provocado pela fome. Em 1934, a população fixa girava em torno de 3.000 habitantes, e esse número duplicava em tempo de seca. A experiência sobreviveu até 1936, quando começou a receber agressões e ataques dos representantes dos fazendeiros e das forças policiais. Em 1938, o Caldeirão foi definitivamente eliminado.
Antes de tudo, creio necessário pôr em evidência a idéia ou conceito de educação adequado ao Caldeirão e verificar alguns diferentes paradigmas.
A educação sobrevive aos diferentes sistemas socioeconômicos e, se, para alguns, ela serve de reprodução do sistema, para outros, ela pode servir à criação da igualdade entre as pessoas e à promoção da liberdade. A educação existe sob diferentes formas; pode servir à construção de um novo tipo de mundo (BRANDÃO), o mundo da igualdade e da liberdade. A educação não se encontra somente no que é formal, no que é oficial, programado e técnico, ela existe em cada parte do mundo(BRANDÃO).
A educação, por sua natureza, permite que a comunidade crie algo de original, faz gerar sua própria maneira de saber e de viver e inventa seus próprios códigos no interior da comunidade. A educação permite criar seus modos próprios de solidariedade, permite elaborar crenças e valores de representação do mundo. Somente a pedagogia formalista pode ver a educação dentro de um sistema restrito de educação. A educação entende que o ambiente escolar não é único lugar sob o controle de professores e educadores onde se procede à educação, mas, ao contrário, transforma-se em tarefa e responsabilidade de todo o conjunto da comunidade. Ela se concebe, não mais como uma ação individualista e, sim, torna-se um esforço cooperativo, em que educadores, mestres, estudantes e trabalhadores têm sua função específica. (FREIRE).