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Abro o portão. Agora, será sempre assim todos os dias, a mesma angústia. Penso em ficar, desejo sair. Quando saio, me angustio pensando na volta. É difícil a gente se dizer: estou só. Queria uma ausência que me afastasse de mim.
Ponho a chave na porta, abri-la, entrar é o que devo fazer. Lá dentro a cara grossa do silêncio. Não consigo aceitá-lo, segue-me, persegue-me. Na presença do invisível sou covarde. Aliás eu sempre tenho medo: medo de não ouvir nada, de não ver, de não saber, de ver o que não quero, de sentir a dor, o sofrimento me consumindo como agora. Preciso de coragem para enfrentar lembranças.
Diante do nada me detenho. O mundo calado, cheio de segredos, me assusta. Esta menina tem medo de tudo. A mãe, inquieta conta-me histórias para afugentar temores.
A noite chega depressa. As sombras se espalham pela casa e dentro da alma. O jarro da mesa, fora do lugar, as janelas abertas. A casa desarrumada. Se chover molhará as cadeiras, o chão da sala. Já não tenho a quem me queixar, nem reclamar pelas coisas erradas. Certeza da solidão.
No quarto, a falta de presença, a cama vazia. O tapete esticado, morto no meio do quarto. Acendo a luz. Estremeço. Mesmo com a luz acesa, ainda tenho medo. Fecho a porta para não ver o escuro. Tenho medo do movimento das sombras. Não me preparei para ser só.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Memórias do Vento.