segunda-feira, 19 de abril de 2010

RAPEL DE ESPERANÇAS

Euza Noronha


Alguns de nós são assim: não vivem sem estar com um pé resvalando no abismo. E isso tanto pode significar desde um esporte radical até uma paixão por alguém a quem nunca vimos os olhos. Desde a criação deste fantástico espaço chamado internet, a imaginação passou a ser um forte instrumento de interligações. Para aqueles que gostam de se jogar no vazio, este espaço universal é uma surpresa atrás da outra. Algumas, agradabilíssimas. Outras, dolorosíssimas.
Em se tratando de relações amorosas, a internet veio quebrar alguns paradigmas. Transformou o amor platônico em amor virtual. Que dá no mesmo, só muda o nome. Mas o amor florescido no ambiente virtual tem uma diferença em relação ao anterior: sua efemeridade. Os sentimentos são tão profundos e intensos como em qualquer outra relação. Mas a duração deles é infinitamente menor. É fácil se apaixonar por palavras. Não porque as palavras por si só venham suprir qualquer necessidade de alguém, mas porque elas são instrumentos que levam a criar o complemento que este alguém necessita.
Em alguns dias, estabelecemos uma relação tão íntima que os sentimentos afloram com intensidade. Sentimentos guardados que necessitam ser divididos. E não importa se as palavras que digitamos tenham um sentido diferente daquele que é lido pelo nosso interlocutor. Ele as recebe como necessita receber. E do lado de cá, tendemos a ler o outro como queremos, interpretando suas palavras de uma forma que preenche as nossas necessidades. Criamos e recriamos a parceria com que sonhamos, que imaginamos, com que nos completamos. E nossas palavras digitadas vão preenchendo vazios diferentes em cada um de nós.
Mas estas mesmas palavras um dia nos mostram que estamos falando de sentimentos diferentes, de necessidades diferentes, de desejos intrinsecamente diferentes. Não raro, descobrimos que não somos, um para o outro, exatamente o que nos propusemos ou que gostaríamos de ser. E por não termos nada além da palavra e da imaginação, entramos em stand by. Dói. E a dor é real - nos desmonta e nos joga no fundo do abismo.
Mas alguns de nós, os que gostam de desafiar o destino, viram a página e reiniciam a subida num rapel de esperanças. Nós que somos radicalmente sonhadores. Nós que não temos a alma pequena.