terça-feira, 23 de março de 2010

UMA ALDEIA BORARI QUE VIROU BALNEÁRIO



Edilberto Sena
(edilrural@gmail.com)


A antiga aldeia Borari, quando o sairé ainda era um ritual semi religioso, celebrado com alegria e simplicidade pelos nativos moradores, por pouco não perdeu sua virgindade logo após a segunda guerra mundial. Foi na década de 1950, quando a Petrobrás trouxe peritos norte americanos para fazer prospecção de petróleo e Alter do Chão dava sinais de ter no subsolo o dito minério. Graça à malandragem dos gringos, os poços perfurados foram fechados sob a alegação de que não havia petróleo.

A Aldeia Borari, já chamada Alter do Chão, voltou a sua modéstia original e suas preciosas riquezas naturais cultivadas para si. Já na década de 80, a aldeia se agitava para se aparecer ao mundo com suas belezas, pensando seu povo que não era mais justo viver a sua vida simples de antes. Era sua crise de puberdade, ansiosa por perder sua virgindade.

Turismo, lago verde, artesanato, ganhar dinheiro, melhorar de vida era a nova moda. Chegou o progresso. A pequena burguesia santarena começou a comprar os terrenos dos boraris, que passaram a ser caseiros ou se afastar para a periferia da antiga aldeia. Veio o progresso, o asfalto, os hotéis e a festa do Sairé se tornou um pequeno carnaval para a pequena burguesia santarena e turistas.

Hoje, algum antigo Sardinha ainda vivo, deve se perguntar – mas o que é feito da querida Aldeia Borari? Valeu a pena esse progresso que lá chegou? Trocou-se o tempo quando todos eram parentes e as águas do lago verde eram férteis de peixe e eram cristalinas e doces? Onde estão os Pedrosos, os Sardinhas, os Silvas e os Figueiras? Nossas barracas tão originais, cobertas com palha de curuá, hoje se transformaram em hotéis e bangalôs. Mas de quem são? E o Sairé, como mudou o ritual. A antiga aldeia primeiro foi transformada em comunidade e hoje o que é? Um distrito, um balneário, “a praia mais bonita do Brasil” dizem uns, mas toda essa mudança para quem?
E o antigo Sardinha se saísse do túmulo certamente estaria a chorar à beira do Lago Verde, hoje um pouco mais poluído pelo lixo que os visitantes e banhistas deixam ao final da semana. E um antigo Pedroso, ainda vivo dirá a seus netos – “ meninos, eu me lembro, eu me lembro quando aqui era tão bom se viver. Não havia luz elétrica, nem asfalto, mas havia a festa do Sairé e o lago era verde de verdade”.