Edilberto Sena
(edilrural@gmail.com)
Junto com o mundo cristão, a Amazônia chega mais uma vez à Semana Santa. Santa, porque a pessoa central da memória é Jesus Cristo. Boa parte da Semana Santa dos cristãos faz memória da via crucis, a paixão e morte de Jesus.
Como Jesus, a Amazônia, com seus 25 milhões de habitantes, seus rios, lagos, igarapés, suas florestas, minerais e sua grandiosa biodiversidade, vive sua paixão e morte. A diferença entre os dois personagens, é que a paixão de Jesus durou poucos dias e foi redentora da humanidade; já a paixão e morte da Amazônia são prolongadas e sem esperança de redenção de seus povos.
Enquanto Jesus enfrentou resoluto os donos dos poderes, político, religioso e econômico de Jerusalém, porque sabia que sua morte tinha garantia de ressurreição, além de dar a vida por amor aos povos do universo, a Amazônia vive sem defesa, entregue à sanha insaciável dos poderes, políticos de Brasília, do capital transnacional e nacional. Seus povos não têm esperança de redenção. Os planos de PAC prevêem redenção apenas para as grandes empresas exploradoras das riquezas da região, enquanto para os povos nativos e tradicionais restam, o saque, a devastação de florestas, a pobreza, além da poluição ambiental.
Semana Santa, memória da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, mas paixão, morte e destruição da Amazônia. Os cristãos celebram a via sacra porque têm certeza da ressurreição, já os amazônidas não celebram, apenas carregam a cruz da colonização desenfreada, conformados, murmurantes, sabendo que mais cedo ou mais tarde só lhes restam as mortes de rios, florestas, crianças e adultos.
Poucos são os que dão sinais de resistência, mas são considerados anti desenvolvimento, loucos. Que se pode concluir? Mesmo esperando contra toda a esperança, este grito é um apelo à resistência e uma convocação ao enfrentamento dos poderes, político, econômico e passivos religiosos, como fez Jesus ao entrar em Jerusalém montado num jumento. A Amazônia não pode ser destruída para depois se lamentar, apenas lamentar o caldo derramado e os poderes do capital ainda desdenharem dos nativos. A ressurreição ainda é possível.