O marmeleiro estava sem folhas, sementando.
A catingueira desfolhando-se para florescer.
Então, percebi que o verão estava chegando.
Com meses quentes, cheios de calor,
Sangue pulsando mais rápido,
Amores fugazes, enredo fácil de aprender,
Caminhos iluminados de sol, que doura e queima neurônios.
No terreiro, no pingo do meio dia, uma galinha deitada
Com a asa levantada para o ar,
Emite um sinal de que, lá na frente, as chuvas virão,
Ninguém vai lembrar-se desses dias de verão.
No sítio, dentro de um capão de mata, observei que um João de Barro fez sua casa virada para o poente, outro sinal de bom inverno.
O inverno veio e muito se colheu.
Hoje, final de julho, relembro o que observei meses atrás.
E ainda vejo um dia com prenúncios de chuva.
O inverno previsto na aroeira, quando florou,
Soltou seus cachos, chumbou,
Carregada de flores, veio em abundância.
Sem esquecer que o mandacaru também floriu.
Nas formigas que se prepararam para as chuvas.
Assim como as precavidas abelhas,
Que fizeram seu chumaço, alto do chão,
Num evidente sinal de que o inverno seria bom.
O homem observou esses avisos,
Alguns souberam interpretar,
Outros nem se manifestaram
E hoje estão sentindo na pele,
A negligência com os recados que a natureza passou.
Não viu que a jurema preta versejou,
No juazeiro verde que renasceu,
Na goiabeira que demorou a cair da folhas.
Sem esquecer do fura barreira que começou a cantar
E no anum preto que chorou.
A partir daí, não se deu nem oito dias
E as chuvas chegaram.
Isso tudo deve ser guardado no coração,
Comparado com os dias que se seguem,
Uma vez que a chave de toda sabedoria,
Ainda provém da correta contemplação
Da natureza, do ser humano, dos bichos que nos cercam
E que, sem formularem frases, emitem seu recado,
Sem briga, sem submissão, sem pagamento,
Apenas o respeito e a convivência pacífica.
O sertanejo tem no sangue, a força,
Sufoca-se com a terra seca que o vento sopra,
Não com as chuvas que lhe caem dos céus!
(mldan, 25/07/2008).