quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

MAZELAS DO NATAL

Djanira Silva
djaniras@globo.com
http://blogdjanirasilva.blogspot.com/



Não é fácil falar sobre o Natal sem entrarmos no mundo das conjecturas e das ilusões, mundo no qual nos escondemos sob várias máscaras numa brincadeira infantil de faz de contas.
Começa o ano. Um calendário repleto de festas e comemorações nos é imposto. Sabemos que por trás de cada uma dessas datas existem outros interesses. O comércio, amparado pela mídia vale-se da sugestão sentimental embutida em algumas datas e disso se aproveita para manipular sentimentos.
Termina o ano. O desencanto por um ano que termina, uma ilusão esperançosa por outro que começa. De começo e fim são feitos nossos dias. Há um grande simbolismo nas velas de aniversário. Ao acendê-las desejamos iluminar os dias que virão. Ao apagá-las tentamos eliminar as mazelas do passado.
Os símbolos do Natal nos comovem: os sinos, as músicas, o incenso, as luzes coloridas. Na alma das crianças deixam impressas mensagens que se transformarão em saudade, tristezas, frustrações.
Durante o ano, temos várias festas. No Carnaval ninguém está nem aí para a tristeza. Na Semana Santa a boa mesa e os bons vinhos fazem esquecer jejum e abstinência. No São João cada um que dance o seu forró. Sem falar no dia das mães, dos pais, da criança, do índio, da bandeira de todos os santos e da farra de finados que os vivos fazem nos cemitérios.
Chega o Natal. Recebem-se os restos de um décimo terceiro sonhado durante o ano inteiro, gasto por antecipação e, às vezes, o pouco que sobrou, dá ainda para fazer novas dívidas.
Natal! Natal! Quanta tristeza se faz em teu nome. Festa de cobranças, de presentes obrigatórios, de uma comilança desenfreada quando sequer cantamos parabéns para o Aniversariante.
Natal do toque saudoso dos sinos, festa para enganar crianças, entretê-las com a figura de um Papai Noel pra lá de superado, cheio de promessas ocas e sem sentido. Para alguns, a alegria das festas de rua, balanços e carrosséis, barracas de doces, banda de música e as figuras da lapinha. Saudades plantadas, saudades cobradas.
Natal, festa da esperança, esperança de começar um novo ano de se enterrar queixas e magoas. Esperança de construir uma felicidade que se estenda por trezentos e tantos dias.
Natal, festa de lembranças remoídas. Imagens trituradas pelo tempo que tentamos ressuscitar para inventar uma felicidade que nunca existiu
Festa montada no passado com vários personagens, personagens que aos poucos vão sendo eliminados como num jogo de damas e no final nos vemos diante de um tabuleiro vazio.
É uma data boa para a criatividade de quem sabe inventar histórias, escrever poemas, ou dançar cirandas. Contar histórias de pobres e ricos. Inventar milagres que na maioria nem aconteceram.
Enfim, vejo o Natal como um arremate mal feito nos remendos da minha vida.