Em uma certa manhã, do alto de uma palmeira, caiu um pingo de orvalho no mar. Ele acreditava que, em poucos minutos, iria acabar se diluindo, mas as ondas o levaram para bem longe sem deixá-lo livre. Em um determinado momento, o pingo de orvalho ouviu uma voz: "Depressa, entre rápido em minha casa! Aqui você estará em segurança!" O pequeno pingo de orvalho obedeceu a voz e se fechou entre as conchas de um molusco. Nos primeiros minutos, ele se sentiu agradecido, mas devagar começou a repensar sobre sua situação: "Eu estou seguro aqui, mas também sem liberdade! Talvez eu nunca mais vou ver a luz do sol e poder refletir as cores do arco-íris!" Foi, então, que o velho e sábio molusco resolveu acalmá-lo: "Muitas vezes, não vale a pena se revoltar com as situações da vida. Em certos momentos, a revolta somente intensifica a dor e aumenta as nossas preocupações. Mas, se você for paciente, a difícil situação poderá se tornar uma verdadeira oportunidade para uma vida melhor!" O molusco ainda acrescentou: "Então você estará pronto para aprender com a vida e, com certeza, um dia você será muito mais do que é agora!" O pingo de orvalho ouviu tudo com muita atenção e apesar de não compreendê-lo resolveu seguir os conselhos do molusco. Com o passar do tempo ele começou a se sentir mais forte e perceber uma transformação em seu ser. Todos os dias ele repetia para si mesmo: "Adeus para o que eu era ontem. O hoje não vai durar eternamente. Amanhã será cada vez melhor!" Em uma certa manhã, o pingo de orvalho avistou pelas frestas da velha concha algo que parecia ser uma grande flor. Na realidade era a mão de um mergulhador que, depois de recolher algumas conchas, voltou para seu barco. Uma menina abriu a velha concha e com um grito chamou a atenção dos tripulantes: "Olha só - eu achei uma pérola lindíssima! Ela tem a forma de um pingo de orvalho e as cores do arco-íris!" Todos, então, olharam admirados para a mão da menina.
A exigência de produção por parte da sociedade capitalista, a necessidade de ser produtivo para sobrevivermos, a cada vez mais acelerada evolução tecnológica e a rapidez dos meios de comunicação provocaram mudanças significativas em nossa forma de perceber o universo que nos circunda. Hoje temos a impressão de que o tempo passa com muito mais rapidez e somos tomados por uma certa ansiedade em relação ao futuro. Todos os dias levantamos com sede de novidades e nos cobramos várias vezes em relação ao fruto do nosso trabalho. Entre nós tornou-se cada vez mais comum uma postura imediatista que nos faz avançar diante de nossos objetivos, mas também nos impede de saborear a vida e respeitar o seu ritmo natural. Diante de nossos projetos queremos ver os resultados o mais rápido possível, afinal, a sociedade procura sempre nos lembrar que "tempo é dinheiro". Aristóteles já afirmava que "em tudo o que fazemos, temos em vista alguma outra coisa", porém a ansiedade em alcança-la tornou-se uma doença crônica. Em uma plantação, basta um momento para semear e também alguns para colher. Mas quanto tempo é necessário para a germinação do trigo é uma questão que se transformou em um tormento. A palavra "paciência" parece ter ganho um acento pejorativo, algo antiquado para o nosso tempo. Sem dúvida alguma, a "paciência-resignação" é sinal de estupidez, mas a paciência atenta e meditativa, esta sim nunca foi tão necessária na atualidade. Reaprendê-la em nosso itinerário humano é um verdadeiro exercício de pura sabedoria. "Pensando em conseguir de uma só vez todos os ovos de ouro que a galinha poderia lhe dar, ele a matou e a abriu apenas para descobrir que não havia nada dentro dela" (Esopo). É fato notório que possuímos ótimas "estufas artificiais". Contudo, um brilhante "caqui" madurado ao sol, batido pela chuva, é mais saboroso do que o da "estufa". As obras feitas de afogadilho, sem a colaboração do tempo, o próprio tempo se encarrega em destrui-las. Por isso é fundamental respeitar a liberdade, o ritmo da natureza e saborear cada experiência que a vida nos oferece; afinal, Madalena foi primeiro mulher da vida. Só depois tornou-se santa, e ela não é nenhuma exceção. "Se me dizes que desejas uma manga, responderei que deves dar tempo ao tempo para que haja, primeiro, uma flor, depois uma fruta e para que a fruta amadureça" (Epicteto). Porém, paciência não significa comodismo, braços cruzados, instalação no mais fácil. A paciência saudável deve ser lúcida, vigilante e em constante interação com a realidade. "A ansiedade é como areia em uma ostra; alguns grãos produzem uma pérola, mas muitos matam a ostra" (Malba Tahan).