segunda-feira, 14 de setembro de 2009

POR QUE NÃO TE CALAS?

Maria Lioza de Araújo Correia


A articulista Terezinha Nunes, deputada pelo PSDB, pelo visto achou exemplar o procedimento do rei Juan Carlos da Espanha mandando o presidente Hugo Chávez calar-se durante a Conferência Íbero-Americana de 2007, em Santiago do Chile.

Causa espécie uma deputada elogiar tal atitude, sem levar em conta que Hugo Chavez é o presidente de uma república livre e soberana, legalmente eleito pelo voto também livre e soberano do povo venezuelano.

Na verdade, as supostas "bobagens", assim denominadas pela deputada, eram assuntos relevantes para a Venezuela, pois diziam respeito à postura prejudicial aos interesses do povo venezuelano por parte de empresas espanholas naquele país, heranças do governo do primeiro ministro ultra direitista, José Maria Aznar. Era tal fato que o presidente Hugo Chávez estava denunciando na presença do rei Juan Carlos e do então primeiro ministro José Rodrigues Zapatero, portanto não se tratavam de "bobagens", como traduziu a deputada neoliberal.

Com efeito, o rei da Espanha, em nenhuma hipótese, poderia arrogar-se o direito de mandar Hugo Chávez calar-se, porquanto um rei de outro país, por mais rei que seja lá na sua terra, jamais poderia mandar calar um presidente eleito democraticamente e pior, numa conferência de nações vizinhas da Venezuela, no continente Latino Americano, como se estivesse dando ordens a um lacaio espanhol, na Espanha.

A postura autoritária do rei Juan Carlos é que foi criticada em todo o mundo democrático e aqui no Brasil sofreu séria condenação por parte de jornais e revistas comprometidos com a democracia e a liberdade de expressão, os quais, ao contrário da deputada, consideraram o chilique autoritário do rei da Espanha uma atitude bastante imprópria para um representante de estado.

Aliás, é sabido que o ditador fascista Francisco Franco "deixou como herança não contestada uma monarquia e um Rei paridos pelo franquismo. E Juan Carlos, independentemente da apreciação que se possa fazer sobre o seu reinado, é a marca mais forte de como Franco continua a existir politicamente em Espanha e na parte mais cimeira e mais visível da simbologia e do ritual do Estado....

"É esta a fonte de legitimidade do Rei Juan Carlos. É esta a marca mais viva da continuação da vitória de Franco, contra a legalidade democrática e republicana, conseguida em 1939, com o apoio de Salazar, Hitler, Mussolini e os Mouros marroquinos, em cima dos cadáveres de mais de um milhão de espanhóis". (Publicado no Google, em 22 de novembro de 2004, verbete ESPANHA GUERRA CIVIL (6), por João Tunes).